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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Governos temem que golpes se espalhem na região e fazem reunião de urgência

Grupo faz protesto a favor de Bolsonaro e Trump  - SUAMY BEYDOUN/AGI
Grupo faz protesto a favor de Bolsonaro e Trump Imagem: SUAMY BEYDOUN/AGI

Colunista do UOL

11/01/2023 06h10

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Sob o comando do Chile e Colômbia, a OEA (Organização dos Estados Americanos) realiza nesta quarta-feira uma reunião de emergência para debater a situação no Brasil e os atos antidemocráticos do último fim de semana. Mas, segundo a coluna apurou, o temor de diversas capitais nas Américas é de que a onda golpista possa se espalhar pela região ou que movimentos de extrema direita saiam fortalecidos se não houver uma condenação forte dos responsáveis no Brasil.

Conforme o UOL revelou com exclusividade, o governo brasileiro agiu para reduzir o perfil do encontro em Washington. O Itamaraty pediu que os chanceleres não fossem convocados e que uma resolução não fosse considerada para votação. Com planos de se restabelecer como uma potência regional e voltar a ter protagonismo no mundo, o governo brasileiro considera que não pode dar uma imagem de uma democracia vulnerável.

A solução encontrada foi a realização da reunião de emergência, mas apenas com os respectivos embaixadores de cada um dos países na OEA e sem a aprovação de um texto final. Está previsto que o Brasil apresente o que tem feito para lidar com os golpistas, como as instituições estão respondendo e quais os avanços nas investigações.

Oficialmente, o encontro foi solicitado pelos seguintes países

Antigua e Barbuda
Canadá
Chile
Colômbia
Equador
Estados Unidos
Honduras
Panamá
Uruguai

A ideia é de que o encontro seja usado para que a região mande um sinal de "união" contra qualquer ação contra a democracia na região.

"Esta situação é preocupante para nossos países, nossa região tem que ter uma posição clara", disse Gabriel Boric, presidente do Chile.

Gustavo Petro, um ex-rebelde e primeiro presidente de esquerda da Colômbia, fez paralelos entre os atos no Brasil e o golpe chileno de 1973 contra Salvador Allende. "Hoje existem aqueles que gostariam de nos trazer de volta aos tempos de Allende", disse Petro, "Acabamos de ver isso no Brasil, mas não é só no Brasil", disse Petro. "É hora de dizer que o que aconteceu aqui neste lugar há 50 anos não acontecerá novamente", completou.

Casa Branca se preocupa com movimento de extrema direita em seu território

Fontes que estiveram nas últimas semanas em Washington ainda confirmam que o interesse de Joe Biden pela reunião não ocorre por acaso. O temor na Casa Branca é de que um eventual sucesso da extrema direita em desestabilizar o Brasil poderia dar um novo impulso ao movimento nos EUA liderado por Donald Trump.

Diplomatas ainda confirmam que, nas redes sociais, a atenção dada pela extrema direita americana aos acontecimentos no Brasil sinalizam que os ataques estão sendo vistos como "inspiração". Não por acaso, o ex-estrategista de Trump, Steve Bannon, tem dedicado uma parcela considerável de seus programas a disseminar mentiras sobre a situação brasileira.

Para membros do Congresso americano, portanto, uma resposta forte ao bolsonarismo é também um assunto de interesse nacional. Não por acaso, a pressão é para que Biden retire o visto dado para Bolsonaro ficar nos EUA e que colabore com as investigações no Brasil.

O americano telefonou para Lula e, em um encontro com México e Canada, fez questão de fazer uma declaração conjunta contra os ataques em Brasília.

Na OEA, ainda que a entidade sofra por uma incapacidade de agir, a reunião de hoje é considerada como parte de uma ofensiva internacional maior de costurar uma aliança entre democracias para frear o avanço de golpes.