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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Lula escolhe para ONU embaixador que foi sacrificado por causa de Crivella

21.out.2015 - Sérgio Danese, que foi anunciado pelo governo Lula como embaixador do Brasil na ONU - Edilson Rodrigues/Agência Senado
21.out.2015 - Sérgio Danese, que foi anunciado pelo governo Lula como embaixador do Brasil na ONU Imagem: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Colunista do UOL

19/01/2023 09h46Atualizada em 19/01/2023 14h33

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O governo de Luiz Inácio Lula da Silva acelera a troca no comando dos principais pontos da diplomacia brasileira, depois de quatro anos controlada por aliados do bolsonarismo.

O Itamaraty anunciou hoje a escolha de Sergio Danese para ocupar o cargo de embaixador do Brasil na ONU, um dos postos mais cobiçados na política externa e que promete ser fundamental na guinada da orientação da diplomacia nacional.

Danese havia sido obrigado a deixar antecipadamente seu lugar de embaixador na África do Sul, em 2021, para que Jair Bolsonaro tentasse emplacar o bispo Marcelo Crivella como o representante do Brasil. Respeitado internamente no Itamaraty, Danese conseguiu um cargo de embaixador no Peru, ainda que a remoção de um embaixador com apenas um ano no posto seja considerado como "deselegante".

Apesar da troca, o governo sul-africano jamais aceitou a proposta de Bolsonaro por Crivella e, por meses, o cargo ficou vago. Naquele momento, havia uma forte desconfiança e até crise diplomática envolvendo a presença de evangélicos brasileiros em diferentes países africanos.

Mudança de rumo em meio ambiente, segurança, migrações e gênero. A nomeação acontece num momento em que o Brasil dá claras sinalizações de uma importante guinada na política externa nesses temas.

O posto estava sendo ocupado por Ronaldo Costa, que teve como função adotar várias das políticas ditadas pela ala mais radical do bolsonarismo e de questionar alguns dos pilares do sistema multilateral.

A postura brasileira foi relativamente suavizada com a saída do ex-ministro Ernesto Araújo, em 2021. Mas muitos dentro do próprio Itamaraty destacaram como a influência de Eduardo Bolsonaro e outras figuras mais radicais continuaram a ditar, em parte, a direção.

O período de Ronaldo Costa na ONU já caminhava para seu fim e, apesar da troca, o diplomata não sai arranhado pelo bolsonarismo, como outros embaixadores que optaram por mostrar lealdade à ala ultraconservadora e até monarquista dentro do Itamaraty.

Mas o novo chefe da chancelaria, Mauro Vieira, sinalizou que era necessário ter uma pessoa de sua confiança para Nova Iorque, assim como para outros postos considerados como estratégicos.

Antes mesmo de Lula assumir, o governo Bolsonaro se apressou para nomear embaixadores para postos importantes. Mas o processo foi interrompido, depois que o novo chefe do Itamaraty sinalizou que não aceitaria os nomes propostos e que iria buscar seus próprios aliados para representar o Brasil nestas embaixadas e missões.

No começo de janeiro, tanto o embaixador do Brasil em Washington como a cônsul do Brasil em Nova York, vistos como simpáticos ao bolsonarismo, foram exonerados, assim como o embaixador em Tel Aviv.

Sérgio Danese ocupa atualmente o cargo de Embaixador do Brasil no Peru. Foi Secretário-Geral das Relações Exteriores (2015-2016), e chefiou as Embaixadas do Brasil na Argélia (2005-2009), na Argentina (2016-2020) e na África do Sul (2021). Sua designação ainda será submetida à apreciação do Senado Federal.

Em Nova York, o Brasil ainda ocupa por mais um ano uma cadeira rotativa do Conselho de segurança.

Mas as transformações propostas pelo Itamaraty prometem ser profundas em temas como a situação dos territórios palestinos, a adesão a acordos sobre migração e uma ênfase nas questões climáticas.