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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Putin vê agenda progressista como "catástrofe espiritual" e "loucura"

Os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e da Rússia, Vladimir Putin, posam para foto após encontro no Kremlin - Mikhail Klimentyev / Sputnik / AFP
Os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e da Rússia, Vladimir Putin, posam para foto após encontro no Kremlin Imagem: Mikhail Klimentyev / Sputnik / AFP

Colunista do UOL

21/02/2023 17h40

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Num discurso que deixaria a extrema direita, bolsonaristas e reacionários brasileiros satisfeita, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, denunciou o Ocidente por viver uma "catástrofe espiritual" ao adotar uma agenda progressista de direitos.

O discurso foi feito à elite política e econômica do país, nesta terça-feira, no momento em que a Rússia completa um ano da guerra de agressão contra a Ucrânia. Em duas horas de fala, o chefe do Kremlin denunciou o Ocidente e insistiu que Moscou estava apenas se defendendo ao tomar a iniciativa de atacar. A versão é desmentida pelos organismos internacionais, americanos e europeus.

Mas num dos trechos de seu discurso, Putin deixa claro sua agenda ultraconservadora e alega que potências ocidentais estão tentando minar a juventude russa com ideias como o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Repetindo de forma muito evidente o mesmo discurso que era mantido por Damares Alves enquanto ocupou o Ministério de Direitos Humanos sob o governo de Jair Bolsonaro, Putin alertou que existe uma ofensiva para tentar "destruir as famílias".

Segundo ele, o Ocidente vive uma destruição de sua identidade, casos de "perversão e pedofilia" e situações nas quais "padres são obrigados a casar pessoas do mesmo sexo".

Putin lembrou que "os livros sagrados" falam apenas de famílias formadas por "um homem e uma mulher". "Hoje, isso é colocado em questão", disse, em um tom inconformado.

O russo ainda se mostrou escandalizado ao relatar como um segmento dos anglicanos consideram tratar Deus como "gênero neutro". "Eles não sabem o que fazem", disse Putin.

Para ele, o Ocidente "enlouqueceu" e prometeu que irá "proteger nossas crianças dessa degradação".

Aliança com Bolsonaro

Ao longo dos quatro anos do governo Bolsonaro, os russos foram alguns dos principais apoiadores das propostas do Itamaraty em debates sobre direitos humanos na ONU.

Com Damares Alves e o ex-chanceler Ernesto Araújo, o Brasil passou a atuar nos órgãos internacionais tentando minar qualquer expansão ou garantia de direitos para mulheres.

Durante votações na ONU, a aliança Moscou-Brasília chegou a ficar evidente, com o Itamaraty apoiando propostas ultraconservadoras por parte dos russos quando o tema era a "defesa da família".