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Com guerra na agenda, chefe do Itamaraty se reúne com Lavrov
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O chanceler Mauro Vieira irá se reunir pela primeira vez, nesta quarta-feira, com o chefe da diplomacia russa, Sergey Lavrov. O encontro ocorre às margens da cúpula de ministros do G-20, na Índia, e marca o primeiro contato pessoal entre o Kremlin e os representantes do novo governo brasileiro.
Do lado do Itamaraty, o objetivo é o de escutar Lavrov no que se refere à situação do conflito armado. Mas o Brasil também deve conversar sobre os Brics e preparar a visita do braço direito de Vladimir Putin ao país, já no próximo mês.
O encontro ocorre depois que o Itamaraty votou ao lado dos europeus e americanos numa resolução na ONU que condenou os russos pela agressão contra a Ucrânia, fato que foi abertamente comemorado pelo governo da França e outros da UE. Mas o governo Lula insiste que não está tomando posição no conflito e que quer criar um grupo de mediadores para buscar uma saída para a guerra.
Nos bastidores da diplomacia, a proposta brasileira é vista como uma possibilidade distante e ainda improvável de acontecer, pelo menos no curto prazo.
Se em declarações públicas, governos de ambos os lados do conflito insistem que querem a paz e que estão dispostos a falar sobre projetos, como o do Planalto, a realidade em salas fechadas e longe da imprensa é que tal iniciativa não está sendo considerada como realista. O obstáculo não seria o Brasil. Mas a ausência de uma real vontade política das partes envolvidas no conflito para abandonar a via militar.
O UOL teve acesso exclusivo aos bastidores de reuniões na ONU e a troca de impressões entre alguns dos principais chefes da diplomacia internacional. A constatação é de que nem ucranianos e nem russos querem, hoje, uma mediação para o conflito.
Lula, desde que assumiu o governo, vem tratando com líderes estrangeiros a possibilidade da criação de um grupo de países que possam dialogar e buscar um caminho para um eventual cessar-fogo.
Mas o tom nos corredores das Nações Unidas e nas chancelarias em diferentes capitais do mundo é de pessimismo e uma narrativa ainda bélica que toma conta da tomada de posições por parte dos principais interlocutores. Não se descarta que, eventualmente, o projeto brasileiro possa ser retomado. Mas o momento não teria ainda chegado e que negociadores admitem que não existem condições políticas para que o plano se consolide.
Fontes próximas ao processo negociador, de fato, relataram ao UOL que existe um fracasso até mesmo da ONU para oferecer seus bons ofícios por um acordo. Dois motivos são considerados fundamentais para esse impasse:
- Não existe nenhum pedido por parte de Kiev ou por parte de Moscou para que uma mediação seja realizada.
- Ambos ainda acreditam que podem vencer militarmente o conflito. Para esses negociadores, portanto, o projeto de Lula "não é para agora". A sugestão é de que o Brasil reavalie e, primeiro, costure com outros países as bases do que poderia ser esse grupo.
"Por enquanto, nem russos e nem ucranianos querem negociar e acreditam, cada um deles, que podem vencer a guerra no campo de batalha", relatou um dos principais negociadores da ONU.
Do lado ucraniano, há um otimismo diante das novas armas de nova tecnologia que o país tem recebido. Kiev acredita que pode minar a confiança dos russos e até restabelecer territórios que tinham sido anexados.
De outro, os russos estariam confiando na dimensão de sua economia para resistir às sanções, no fôlego de uma sociedade acostumada com períodos de dificuldade e com seu gigantismo. A vitória, portanto, viria com "paciência" e o "desgaste" da aliança ocidental, já que as economias europeias e de outros partes do mundo poderiam começar a sofrer diante das sanções contra o setor de energia.
País neutro, mas armado
De acordo com relatos internos na ONU, já houve um esforço nos bastidores para oferecer uma mediação, o que não foi aceito nem em Kiev e nem em Moscou.
A base do projeto previa:
- Transformar a Ucrânia num país armado, mas neutro. Ou seja, Kiev poderia ter seu exército, mas sem formar parte da OTAN.
- A região de Donbass permaneceria na Ucrânia, mas um grau mais elevado de autonomia seria garantido.
- Um congelamento da crise na Crimeia, anexada por Moscou em 2014. Ou seja, não haveria um reconhecimento internacional de que a região passa a fazer parte da Rússia. Mas não haveria um questionamento sobre o fato de que, na prática, a região está controlada e administrada por Moscou.
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