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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Em Kiev, Brasil insistirá sobre necessidade de diálogo para encerrar guerra

Presidente da Ucrânia, Zelensky chora na data que marca um ano da guerra  - UKRAINIAN PRESIDENTIAL PRESS SERVICE / AFP
Presidente da Ucrânia, Zelensky chora na data que marca um ano da guerra Imagem: UKRAINIAN PRESIDENTIAL PRESS SERVICE / AFP

Colunista do UOL

09/05/2023 04h59

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Celso Amorim, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vai insistir nesta quarta-feira (10) com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que canais de diálogo precisam ser estabelecidos e que apenas uma saída diplomática pode colocar fim à guerra.

O brasileiro está programado para chegar em Kiev nesta quarta-feira, numa tentativa do governo Lula ainda de dar sinais claros também ao Ocidente de que está disposto a dialogar com todos os lados na guerra que já dura mais de um ano.

Procurado, o Itamaraty informou que existem duas mensagens que Amorim levará aos ucranianos:

  • A necessidade de abrir canais de diálogo
  • A urgência em ouvir as partes envolvidas no conflito

O governo ucraniano insiste que existem pré-condições para que um diálogo possa ocorrer e o principal deles é de que as tropas russas deixem as regiões invadidas e que seja restaurada a integridade territorial do país.

Zelensky tem seu plano de paz como base e o governo brasileiro admite que alguns dos pontos da proposta podem ser trabalhados. Mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já alertou ao ucraniano no mês passado que nenhuma guerra termina e nenhum cessar-fogo tem êxito a partir de um plano unilateral.

Uma segunda opção sobre a mesa é o plano chinês. Mas que enfrenta intensa resistência do Ocidente. Não há uma previsão de que o Brasil fale em nome do projeto de paz sugerido pela China. Pequim tem seus próprios canais com russos e, mais recentemente, houve uma sinalização por parte de Xi Jinping que uma missão chinesa seria enviada para Kiev.

Uma terceira opção é ainda o caminho que o governo da França tenta articular, com a realização de uma cúpula para dar início a um processo que impeça o prolongamento da guerra. O governo brasileiro já foi consultado por Paris sobre a ideia.

Mas do lado ucraniano, há um forte pessimismo em relação à possibilidade de um espaço de negociação. Segundo Kiev, os repetidos ataques de Moscou contra seus territórios nos últimos dias são sinais claros de que o Kremlin não quer uma negociação.

Para adidos militares na ONU consultados pelo UOL, não há tampouco uma vontade dos ucranianos em entrar numa negociação de paz, num momento em que estão prestes a lançar sua maior ofensiva militar na esperança de reconquistar territórios. Hoje, um quinto da Ucrânia está sob ocupação russa.

Conforme o UOL revelou, os ucranianos indicaram que querem levar Amorim a alguns dos locais onde tropas russas cometeram crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Um dos possíveis locais de visita seria a cidade de Bucha, considerada até mesmo pela comissão de inquérito da ONU como cenário de crimes cometidos por tropas russas.

A meta de Kiev é de que Amorim "veja com seus próprios olhos" e que as "dores, emoções e interesses" dos ucranianos sejam levados em consideração no posicionamento do governo brasileiro.

Kiev não disfarça que vê com frustração o fato de que um país que quer mediar a guerra —o Brasil— converse de forma apenas esparsa com um dos lados do conflito.

Na avaliação dos diplomatas ucranianos, não há como mediar ou se credenciar para tal tarefa sem esse contato. O objetivo, portanto, é convencer os brasileiros que Kiev quer ser ouvida e que falar de paz não pode acontecer de forma abstrata.

Apesar da viagem, o governo brasileiro alertou às autoridades de Kiev que Brasília não apreciaria se a viagem fosse transformada numa chancela da posição ucraniana e nem que as imagens servissem como parte da propaganda de guerra.

O temor do governo brasileiro é de que isso mine os canais abertos com os russos, além de sua posição nos Brics e como um eventual facilitador de um processo de paz.