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Pós-Bolsonaro, Brasil reata com OMS e prioriza ciência e vacina
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Depois de quatro anos marcados por negacionismo, por ataques contra a ciência e atritos explícitos com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil volta ao cenário da diplomacia da saúde. A partir deste fim de semana, uma delegação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva participa da Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra, com o objetivo de reatar relações com a OMS e recuperar o protagonismo do Brasil em temas de saúde.
Em declarações ao UOL, a ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, explicou que sua participação na conferência representa:
"A retomada de uma agenda da diplomacia da saúde orientada pela defesa da ciência, da cobertura universal e da visão da saúde como direitos humanos".
"Essas são as mensagens que vou levar", explicou a chefe da pasta, que terá encontros com ministros da Saúde de diversos países, com diretores das principais agências internacionais e especialista.
A partir de 2020, a relação do Brasil com a OMS passou a ser alvo de contestações e repetidas crises. O ex-presidente manipulou declarações do diretor-geral da agência, Tedros Gebreyesus, ameaçou retirar dinheiro da instituição, adotou uma postura negacionista, atacou a ciência, rejeitou dar poderes para a OMS lidar com a pandemia e ainda questionou o conhecimento médico do chefe da agência.
Somando um dos maiores números de mortes pela covid-19 no mundo, os diferentes ministros brasileiros chegavam a declarar em reuniões da agência que o país era quem "mais recuperava" doentes do novo vírus. As declarações causaram revolta entre especialistas.
Dentro da OMS, a alta cúpula chegava a citar Bolsonaro como "louco", enquanto buscava alternativas para manter o diálogo com cientistas brasileiros, sem ter de passar pelo governo federal.
Para a surpresa de todo o mundo em desenvolvimento, o Brasil ainda abandonou sua tradicional posição de defesa de remédios genéricos para apoiar a postura dos países ricos em defender que patentes não fossem quebradas no caso das vacinas da covid-19.
Nos bastidores, uma parcela da diplomacia brasileira manteve canais abertos de comunicação com os órgãos internacionais, na esperança de impedir um isolamento completo do Brasil.
Agora, com o fim do governo Bolsonaro, a retomada da participação brasileira na agenda ocorre com base em alguns princípios:
- defesa da centralidade da OMS na agenda da diplomacia da saúde;
- apoio à ciência;
- defesa de uma agenda que possibilite o acesso a medicamentos por parte de países em desenvolvimento.
A participação de Nísia Trindade também representa uma mudança no discurso brasileiro sobre a pandemia que, segundo a OMS, pode ter matado mais de 20 milhões de pessoas no mundo.
Para a ministra da Saúde, está na hora de o mundo tirar lições da pandemia. "Esse é o primeiro evento depois que a OMS declarou o fim da emergência sanitária, mas que o mundo ainda sofre o impacto da pandemia", disse.
"Junto com o impacto da perda de tantas vidas - que no Brasil chegou a 700 mil mortes - o aprendizado que precisa acontecer de que é preciso ter maior equidade em relação à política econômica em todo o mundo, ter mais equidade no acesso aos benefícios da ciência e tecnologia em saúde", disse.
Para ela, outra lição da pandemia é que a produção local de remédios e produtos de saúde é "fundamental".
Segundo a ministra, o Brasil vai "retomar com muita ênfase" a tradicional postura do país na defesa do acesso a vacinas e tratamentos. "A pandemia mostrou o quão vulnerável estão as sociedades que não tem autonomia de produção de vacinas e medicamentos", completou.
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