Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Brasil é procurado para substituir russos em centro mundial de ciência
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
O Brasil foi procurado pelo maior centro de pesquisas nucleares do mundo para substituir equipamentos que deveriam ter sido fornecidos pelos russos. O Cern (Organização Europeia de Pesquisas Nucleares) suspendeu a participação de Moscou em todos seus projetos ainda em 2022 diante da invasão ao território ucraniano. Como parte de um isolamento total do Kremlin, o órgão cortou a presença de cientistas russos e ainda acabou com os contratos que existiam para que equipamentos fossem fornecidos pelos centros de pesquisa do país em guerra.
Como resultado, porém, alguns dos projetos do Cern foram obrigados a buscar outros parceiros que pudessem substituir a tecnologia russa.
O Cern é o maior laboratório de física de partículas do mundo e um dos centros mais respeitados no desenvolvimento de novas tecnologias. Seu carro-chefe hoje é um acelerador de partículas que permite que cientistas possam simular as condições existentes poucos segundos depois da origem do universo.
Segundo Antonio José Roque da Silva, diretor-geral do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), os primeiros contatos entre o Cern e o Brasil para falar sobre a situação russa ocorreram ainda em 2022. Desde então, várias reuniões foram realizadas e os estrangeiros buscam a tecnologia para pelo menos quatro experimentos diferentes.
O Brasil respondeu que teria interesse em entender o que era o projeto e chegou a avaliar o valor que seria necessário para construir os equipamentos solicitados.
O Cern passa por um processo de planejamento para atualizar sua tecnologia e aumentar a luminosidade do acelerador de partículas. "Dentro dessa colaboração, a Rússia ia desenvolver equipamentos", explicou Roque. "Mas o processo foi interrompido e trouxe dificuldades para o Cern, que tem buscado outros países para não comprometer seu planejamento", disse.
A busca pelo Brasil ocorreu depois que o maior centro de pesquisas do mundo havia feito um mapeamento das possibilidades tecnológicas do país. Se um entendimento for eventualmente fechado, os contratos envolveriam a produção por empresas nacionais.
Para fornecer equipamentos, Brasil precisa completar adesão ao Cern
Ainda não existe um acordo e nem uma conclusão das consultas. Mas, para que o Brasil possa fornecer o material, o país ainda precisa entrar como membro associado no Cern, um processo que ainda tramita no Congresso Nacional.
Em 2022, depois de anos de negociações, o Brasil assinou a adesão ao centro de pesquisas. Mas, para que o acordo entre em vigor, deputados e senadores precisam ratificar o entendimento e liberar US$ 12 milhões por ano.
O Cern havia estabelecido que o governo brasileiro teria de conseguir a ratificação do Congresso até março de 2023. Mas a nova administração solicitou que o prazo fosse adiado até 2024, o que foi aceito pelos europeus.
Nesta sexta-feira, a ministra de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, visitou o centro em Genebra, com uma delegação de deputados. O objetivo era o de sensibilizar os parlamentares e permitir que o processo de ratificação seja acelerado na Câmara dos Deputados.
Em coletiva depois da visita, a chefe da pasta rebateu críticos que questionam o uso dos recursos para um projeto no exterior. Segundo ela, a adesão vai permitir que a indústria nacional possa entrar num mercado milionário e fornecer tecnologia.
Segundo ela, o Cern oferece hoje contratos US 500 milhões. O Brasil, portanto, quer uma fatia disso. 70% da contribuição brasileira seria revertida em contratos do organismo internacional a empresas nacionais.
"A adesão abra muitas possibilidades para a indústria brasileira", disse. Com um fundo nacional para pesquisas avaliado em R$ 10 bilhões, a ministra acredita que destinar US$ 12 milhões ao Cern "não seria um custo exorbitante para as vantagens que o país adquire". Segundo ela, portanto, a adesão "não compromete" o financiamento à ciência nacional e o valor seria "insignificante" se avaliado o custo-benefício.
"Ele gera renda, empregos e adquirimos conhecimentos", defendeu.
Outra vantagem seria a transformação tecnológica do Brasil na área de nióbio. Para a ministra, o país não pode continuar sendo apenas fornecedor de matéria-prima. O mineral é usado nos supercondutores e, portanto, o Brasil espera adquirir tecnologia para construir ligas para esses equipamentos.
Tramitação
Hoje, o projeto para adesão do Brasil está na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados. Nas próximas semanas, o tema deve entrar na pauta da Comissão e, segundo o Executivo, o parecer feito pelo deputado Celso Russomanno foi favorável.
Se aprovado, o projeto ainda precisa passar por mais três comissões e, só então, irá ao plenário para votação. Para sua conclusão, ele ainda segue para o Senado.
Para a ministra, o ratificação não deve enfrentar resistência e cita outros episódios em 2023 nos quais o Congresso não criou dificuldades em temas relacionados à Ciência e Tecnologia.
Ela também acredita que o tema não vai ser contaminado pelos aspectos de disputas políticas que existam entre o Executivo e o presidente da Câmara, Arthur Lira.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.