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Brasil é convidado para cúpula sobre Ucrânia, e Lula critica potências
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O governo brasileiro participará neste sábado de uma primeira tentativa real de reunir países que apoiam a Ucrânia e autoridades que vem adotando uma postura de neutralidade no conflito. A cúpula ocorre na Dinamarca, com a presença de chefes da Segurança Nacional e negociadores de mais de uma dezena de países.
O evento ocorre num momento em que a contraofensiva liderada por Kiev para recuperar territórios ocupados pelos russos enfrenta dificuldades e avança mais lentamente do que se imaginava entre os aliados da OTAN.
Em Roma nesta quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a meta de todos os esforços é a de encontrar "um denominador comum" para permitir que russos e ucranianos possam dialogar.
"Estou de acordo com papa Francisco", disse Lula. "Precisamos ter gente envolvido discutindo a paz. É preciso parar de atirar", defendeu.
Segundo Lula, até o momento, todos acham que vão ganhar a guerra. "Mas milhares de pessoas estão morrendo. É importante parar", disse.
O brasileiro propôs estabelecer uma rodada de negociações, com os interlocutores que os dois lados optarem. Para ele, uma opção poderia ser a ONU.
Lula insistiu que condenou a invasão russa ao território ucraniano. Mas ainda cutucou americanos e europeus, e criticou as potências por invadir outros países.
"O Brasil condenou a ocupação territorial na Ucrânia. Mas é uma moda dos membros do Conselho de Segurança invadir sem pedir licença para ninguém. Os americanos invadiram o Iraque, os franceses e britânicos na Líbia e russos na Ucrânia. Eles não poderiam fazer isso. Por isso queremos nova governança mundial", defendeu.
Para Lula, um acordo de paz não pode ser uma "rendição". "Os dois precisam ganhar alguma coisa. Se não, não é acordo. É imposição", disse.
Em sua visão, quem sabe quais são os critérios de um acordo são os ucranianos e russos. "Não eu, brasileiro, e nem outras pessoas", alertou. Lula voltou a criticar o Ocidente. "O problema é que a Europa e os EUA estão totalmente envolvidos na guerra", disse.
O brasileiro, porém, reconheceu que o projeto de paz pode não ser imediato e indicou que "tempo" seria necessário.
Amorim representará Brasil e defende evento com russos
Na Dinamarca, o Brasil será representado por Celso Amorim, assessor especial da presidência e diplomata que vem pilotando o projeto de contatos do país com ucranianos e russos.
Em conversa com o UOL na manhã desta quinta-feira, Amorim admite que chegou a hesitar, depois que recebeu uma ligação por parte dos organizadores dinamarqueses. O governo não quer fazer parte de uma iniciativa que seja vista como um apoio irrestrito aos ucranianos, sem considerar a situação russa e as possibilidades de uma negociação real para acabar com a guerra.
Segundo ele, porém, o encontro é o primeiro no qual existe uma abertura para países que não estão envolvidos na guerra e, portanto, um passo "importante". "Mas, como diria Garrincha, uma hora vai ter de envolver os russos", insistiu.
Desta vez, a cúpula terá a presença das principais potências Ocidentais, inclusive dos EUA. Os americanos serão representados por Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional.
Além do Brasil, o encontro ainda conta com representantes da África do Sul e Índia, dois outros países dos Brics. Os turcos também foram convidados e ainda existe a possibilidade de que um representante da China também esteja presente.
Para Amorim, o objetivo é de "ouvir e dialogar". Segundo os europeus, trata-se de um encontro para falar sobre "princípios de paz", uma forma diplomática para debater quais seriam as bases de um eventual acordo de cessar-fogo.
Mas, na opinião de Amorim, o esforço para acabar com a guerra terá de envolver em algum momento os russos e ainda terá de voltar para a agenda da ONU, o único espaço multilateral.
Kiev vem insistindo que o único plano de paz possível é sua proposta, que exige a retirada imediata das tropas russas de suas terras para que uma negociação possa começar.
Moscou já deixou claro aos diplomatas brasileiros que esse pacto seria inaceitável e representaria uma capitulação do Kremlin.
Encontros com Vaticano e Macron
Nesta quarta-feira, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reunia com o papa Francisco, no Vaticano, Amorim se encontrou com o enviado da Santa Sé para negociar uma saída para a guerra, cardeal Matteo Zuppi.
O Vaticano mantém uma posição sobre o conflito que dialoga com a postura do Itamaraty.
Zuppi, por exemplo, defendeu a criação de uma cultura de paz para responder à "profunda ansiedade, às vezes não expressa, muitas vezes não ouvida, de povos que precisam de paz". Zuppi, assim como Amorim, foi para Kiev nos últimos dias, na esperança de buscar espaços para que um diálogo possa ocorrer. Sua missão era a de "ajudar a aliviar as tensões no conflito na Ucrânia, na esperança incessante do Santo Padre de que isso possa iniciar caminhos de paz".
Zuppi é arcebispo de Bolonha, presidente da Conferência Episcopal Italiana e ajudou a mediar os acordos de paz da década de 1990 que puseram fim às guerras civis na Guatemala e em Moçambique. Ele ainda chefiou a comissão que negociou um cessar.
De acordo com Amorim, ficou estabelecido que a Santa Sé e o governo brasileiro continuariam a dialogar sobre a situação ucraniana.
Em Paris, nesta quinta-feira e sexta-feira, o tema da guerra voltará ao debate. Num almoço, Lula e o presidente da França, Emmanuel Macron, tratarão da crise. Os franceses, segundo fontes diplomáticas europeias, tentam convencer os ucranianos a modificar alguns pontos do acordo de paz proposto por Kiev para que ganhe o apoio também de Brasil e outros emergentes.
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