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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Crise fragilizou Rússia, diz Amorim; emergentes bloqueiam proposta de Kiev

Celso Amorim e Andrij Melnyk, o atual vice-ministro de Relações Exteriores da Ucrânia  - Reprodução/Twitter/Andrij Melnyk
Celso Amorim e Andrij Melnyk, o atual vice-ministro de Relações Exteriores da Ucrânia Imagem: Reprodução/Twitter/Andrij Melnyk

Colunista do UOL

25/06/2023 15h06

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É de interesse de todos que a coesão da Rússia seja preservada. O alerta é do assessor especial da presidência, Celso Amorim. Em conversa com o UOL neste domingo, o principal artífice da posição brasileira na guerra na Ucrânia admitiu que a situação é ainda difícil de compreender. Mas considera que, mesmo com o poder restabelecido, o incidente fragiliza o governo de Vladimir Putin.

Entre sexta-feira e sábado, a milícia do grupo Wagner ameaçou Vladimir Putin, assumiu o controle de uma das cidades do país e sinalizava que ia em direção à capital russa. Mas, num acordo, o motim teria sido desfeito.

Amorim admite que o cenário "parecia caminhar em um certo momento para uma guerra civil". Para ele, não é de interesse de ninguém, nem dos europeus, um colapso russo. "Uma Rússia implodida é um perigo imenso", afirmou.

"É de interesse de todos que a coesão da Rússia seja mantida", insistiu o braço direito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para temas de política externa.

A avaliação de Amorim é compartilhada por observadores internacionais, que apontam para a existência de 300 mil?cias no país e um potencial de disputa de poder entre regiões explosivas, como a Chechênia. Se não bastasse, trata-se de um estado com milhares de ogivas nucleares.

Amorim acredita que, pelas informações recebidas, um certo controle foi restabelecido. "Mas fragilizou a posição da Rússia. Não foi bom para os russos", apontou.

Emergentes resistem a plano ucraniano

No fim de semana, enquanto a crise dominava a agenda internacional, Amorim estava representando o Brasil numa reunião entre países do G7, emergentes e os ucranianos, na esperança de começar a desenhar um caminho para a paz.

Durante o encontro, realizado na Dinamarca, o governo de Kiev tentou fazer aprovar uma declaração final na qual os participantes sinalizavam apoio a trechos do plano de paz dos ucranianos. Mas a ideia não prosperou, em especial diante da resistência dos países emergentes. O Brasil também adotou a mesma postura.

Para Amorim, a aprovação do documento "não seria produtivo" e qualquer ideia de paz precisa nascer de conversas entre russos e ucranianos.

Ainda assim, o brasileiro destacou que o encontro concluiu com a decisão de manter o diálogo, o que já seria considerado um avanço diante da crise internacional.

Segundo Amorim, porém, esse processo terá de incluir a China e a Rússia. "Não há como fazer um acordo com eles mesmos", disse o negociador brasileiro, em referência aos ucranianos.

Por enquanto, o processo ainda não será transformado em uma reunião de cúpula de chefes de estado. Mas não se descarta que, no futuro, o grupo possa ganhar tal dimensão.

No encontro deste fim de semana, a ausência de Jake Sullivan, conselheiro nacional de Segurança dos EUA, acabou prejudicando a ambição da reunião. O americano optou por permanecer em Washington diante do motim que se registrava na Rússia.