Jamil Chade

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Belém viverá um Natal em 'silêncio ensurdecedor' e cancela atos públicos

Neste ano, não haverá a celebração pública do Natal em Belém, o berço do cristianismo, em plena Palestina. O argumento é de que não haveria motivo para celebrar diante do massacre de mais de 20 mil palestinos, dos quais 70% são mulheres e crianças.

Numa das igrejas da cidade na Cisjordânia, o presépio traz um menino Jesus coberto por uma manta diferente: um pedaço do kefiyeh, o lenço tradicional palestino e que se tornou símbolo de resistência.

Sem os tradicionais peregrinos que chegam ao local durante o mês de dezembro e sem os cortejos que tradicionalmente marcam a data, o que reina é um silêncio. Na praça central da pequena cidade de 30 mil habitantes, muitas das lojas sequer estão abertas. Poucos são os palestinos cristãos que se aproximam do local, onde Jesus teria nascido, para rezar.

Está previsto, ainda, a visita de líderes cristãos de algumas partes do mundo, como forma de marcar um apoio aos palestinos. Mas será uma oração em silêncio. Para negociadores e diplomatas, porém, um silêncio ensurdecedor. Um forma de protesto e de luto diante de números que assombram até mesmo os mais experientes negociadores e agentes humanitários da ONU.

A guerra ainda levou o papa Francisco a reagir diante dos ataques israelenses contra os civis, principalmente depois que 16 pessoas foram mortas num ataque aéreo de Israel contra a igreja mais antiga de Gaza.

Os líderes religiosos ainda insistiram que perderia o sentido organizar festas num contexto de morte. Em seu último informe, de fato, as Nações Unidas revelam a dimensão da destruição em Gaza e o fato de que a ofensiva não perde força.

Hoje, 90% dos 2,2 milhões de pessoas em Gaza vivem uma situação de risco de insegurança alimentar aguda. 40% deles, quase 1 milhão de pessoas, estão em situação de emergência. Mais de 378 mil palestinos vivem em fase "catastrófica" de falta de alimentos.

Se nada for feito, todos os 2,2 milhões de palestinos estarão em insegurança alimentar severa até fevereiro de 2024. Ou seja, em pouco mais de um mês.

Segundo o Programa Mundial de Alimentação, o ritmo de aumento da insegurança alimentar é "sem precedentes" e uma população inteira vive o risco iminente da fome.

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Enquanto isso, a Unicef destaca que 90% das crianças hoje em Gaza não têm acesso à agua. A taxa de diarreia é 20 vezes maior que os índices antes da guerra, entre as crianças com menos de cinco anos de idade.

Sem latrinas, virou rotina que palestinos transformem becos em banheiros, ampliando o risco de doenças.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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