Jamil Chade

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Zelensky diz que mercenários russos estão em Caracas e denuncia intromissão

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, fez um alerta sobre a suposta presença de mercenários russos na Venezuela. Nas redes sociais, o líder ucraniano escreveu que existem informações sobre a existência de membros do Grupo Wagner atuando no país sul-americano, ainda que não tenha apresentado qualquer tipo de provas ou explicado a origem de sua declaração.

Nos últimos dias, imagens circulam pelas redes sociais indicando supostos mercenários russos trabalhando ao lado da Guarda de Nicolás Maduro. As informações foram compartilhadas por influenciadores ucranianos. Em 2019, a agência Reuters também sinalizou que o Grupo Wagner teria seus tentáculos no território venezuelano.

Não existem confirmações oficiais da presença russa na Venezuela e nem declarações de autoridades locais neste sentido.

"Relatos preocupantes de mercenários russos da Wagner sendo vistos na Venezuela ao lado das forças do governo. Onde quer que esses bandidos vão, eles trazem morte e desestabilização", disse Zelensky.

"Esse é um exemplo claro da intromissão descarada da Rússia nos assuntos de outros países, bem como de sua estratégia habitual de semear o caos em todo o mundo", disse o ucraniano.

Moscou foi, de fato, um dos primeiros países a reconhecer a vitória de Nicolás Maduro, em eleição realizada no último fim de semana. Antes mesmo dos resultados finais, o governo Putin já havia felicitado Maduro.

"Vemos que o povo da Venezuela está passando por um momento muito difícil. E a única saída é por meio de procedimentos pacíficos e democráticos, não por meio do envio de assassinos para agravar ainda mais a situação", disse Zelensky.

"Condenamos o uso da força contra manifestantes pacíficos e pedimos a todos que respeitem a escolha do povo. Os verdadeiros líderes não se escondem de seu próprio povo nas costas de mercenários", completou.

Alvo de polêmicas em Moscou, o Grupo Wagner serviu como uma espécie de força não oficial do Kremlin em crises espalhadas pelo mundo. No ano passado, uma tensão entre a milícia e o governo de Vladimir Putin gerou preocupações sobre uma eventual instabilidade em Moscou. Meses depois, o líder do grupo morreu em um misterioso acidente aéreo.

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Kremlin não excluiu a possibilidade de enviar soldados para Venezuela

Nos últimos anos, o caos venezuelano abriu um vácuo na geopolítica, e tanto russos como chineses tentaram se aproveitar para se instalar no que um dia chegou a ser o quintal dos EUA. A decisão do governo de Jair Bolsonaro de romper com Caracas e fechar sua embaixada por anos ampliou o espaço de manobra para potências estrangeiras.

Nada do que Donald Trump tramou para a região funcionou. Juan Guaidó, apoiado pelos americanos, não vingou como presidente autodeclarado. As sanções não derrubaram Maduro e apenas ampliaram o fluxo de refugiados e imigrantes, inclusive para os EUA. Se não bastasse, Caracas reconduziu completamente seu comércio e apoio financeiro ao eixo Pequim, Teerã e Moscou.

A China passou a exportar armas no valor de US$ 700 milhões para a Venezuela, enquanto mais de US$ 20 bilhões foram investidos por Pequim no país, principalmente no setor de energia. Xi Jinping chegou a perdoar parte da dívida da Venezuela, mas iniciou nos bastidores diálogos inclusive com a oposição. A meta: garantir sua posição de maior parceiro do país, independente do destino que o voto tomar.

A aliança chegou a preocupar diplomatas brasileiros nas negociações para a ampliação do Brics. Nos debates, ficou claro que Pequim poderia favorecer a adesão da Venezuela ao bloco dos emergentes, o que ampliaria o sentimento de que a aliança é uma iniciativa contra os EUA.

Moscou, por seu lado, também usou o isolamento criado pela Casa Branca contra Maduro para ampliar suas relações com Caracas, inclusive coordenando posições sobre sanções que ambos enfrentam por parte do Ocidente.

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Assim que a ofensiva de americanos começou contra o governo de Vladimir Putin por conta do risco de uma invasão ao território ucraniano, o Kremlin não excluiu a possibilidade de enviar soldados para Cuba e Venezuela.

O vice-ministro das Relações Exteriores Sergei Ryabkov deixou a porta aberta para a possibilidade de que Moscou estabeleça uma estrutura militar em Cuba e na Venezuela, como uma espécie de retaliação ou uma estratégia de equilíbrio de forças. A lógica é clara: se americanos querem contar com aliados como a Ucrânia e a Geórgia, nas portas do território russo, Moscou então também teria suas bases na América Latina.

Documentos obtidos pela coluna ainda revelaram como estatais russas e do regime chavista usaram uma rede de intermediários com base em paraísos fiscais para criar empresas. Num dos casos, o braço financeiro do Kremlin usou uma empresa implicada em corrupção e lavagem de dinheiro para fechar um acordo de US$ 1 bilhão com a PDVSA.

Em 2013, a instituição financeira Gazprombank ainda anunciou a criação da PetroZamora, na Venezuela. O banco faz parte da Gazprom, a estatal de energia do governo russo e pilar da estratégia política e econômica de Vladimir Putin.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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