Eleição dos EUA é marcada por espiões e tentativa de influência externa
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Estratégica e considerada um divisor de águas em termos geopolíticos, a eleição americana está sendo marcada por uma intensa atividade por parte de atores estrangeiros, tentando influenciar eleitores. Dados divulgados tanto pelo setor privado como pelo governo dos EUA indicam uma ofensiva digital por parte de China, Rússia e Irã.
Nesta semana, o FBI anunciou que está investigando a operação de hackers chineses que teriam realizado uma ofensiva contra os celulares de cerca de 40 pessoas. Entre eles, estariam o candidato republicano à presidência, Donald Trump, e seu companheiro de chapa, o senador JD Vance. Acredita-se, porém, que se trata de uma campanha de espionagem de longo alcance. Em um comunicado, o FBI confirmou que o governo dos EUA está "investigando o acesso não autorizado à infraestrutura comercial de telecomunicações por atores afiliados à República Popular da China".
Segundo o Centro de Análise de Ameaças da Microsoft, existem "esforços contínuos de influência da Rússia, do Irã e da China com o objetivo de minar os processos democráticos dos EUA".
Para os observadores, a história mostra que "a capacidade dos agentes estrangeiros de distribuir rapidamente conteúdo enganoso pode afetar significativamente a percepção do público e os resultados eleitorais".
Com um foco especial nas 48 horas antes e depois do dia da eleição, os eleitores, as instituições governamentais, os candidatos e os partidos devem permanecer vigilantes contra atividades enganosas e suspeitas on-line.
Informe do Centro de Análise de Ameaças da Microsoft
A empresa destacou como, recentemente, o governo dos EUA tomou medidas para revelar atividades cibernéticas e de influência de estrangeiros relacionadas à eleição de 2024. Isso inclui a revelação do envio, por agentes cibernéticos iranianos, de "material roubado e não público da campanha do ex-presidente Trump" para indivíduos então associados à campanha do presidente Biden e para a imprensa americana.
De acordo com o informe da Microsoft, o aumento das hostilidades no Oriente Médio não diminuiu a velocidade das operações de influência cibernética do Irã, que "provou que pode executar várias operações contra alvos variados simultaneamente".
"Apesar do aumento das tensões com Israel, o Irã continua seus esforços para influenciar o público dos EUA", disse. Uma das ações foi se passar por um grupo de americanos que conclamavam os demais cidadãos a boicotar as eleições devido ao apoio dos candidatos a Israel. "Os esforços anteriores do grupo para incitar protestos anti-Israel em universidades ilustram ainda mais o uso de questões sociais divisivas para semear conflitos entre comunidades nos EUA", disse.
Além disso, o grupo cibernético iraniano que a Microsoft rastreia como Cotton Sandstorm tem procurado ativamente sites e meios de comunicação relacionados às eleições, sugerindo preparativos para operações de influência mais diretas à medida que o dia da eleição se aproxima.
Rússia mantém foco na campanha de Kamala Harris
Já os agentes russos, segundo a Microsoft, continuam a tomar medidas para prejudicar a campanha Harris-Walz. "Os agentes russos continuam a criar vídeos deepfake aprimorados por IA sobre a vice-presidente Harris", disse.
Em um vídeo, Kamala Harris é retratada supostamente fazendo comentários depreciativos sobre o ex-presidente Donald Trump. Em outro, de uma fazenda de trolls alinhada ao Kremlin rastreada como Storm-1516, a candidata é acusada de caça ilegal na Zâmbia.
Outro vídeo que espalha desinformação sobre o candidato democrata à vice-presidência, Tim Walz, obteve mais de 5 milhões de visualizações no X nas primeiras 24 horas.
O que a empresa nota é ainda a mudança de estratégia de publicação de conteúdo do Telegram para o X para alcançar o público dos EUA.
No caso da China, a ofensiva tem como alvo os candidatos e membros do Congresso. "As operações de influência chinesa têm se concentrado em candidatos republicanos e membros do Congresso que defendem políticas anti-chinesas", diz.
Isso inclui campanhas contra o deputado Barry Moore, a senadora Marsha Blackburn e o senador Marco Rubio, que não está concorrendo à reeleição.
"Embora nem sempre resultem em altos níveis de engajamento, esses esforços demonstram as tentativas contínuas da China de influenciar a política dos EUA em todas as áreas", disse o informe.
Na avaliação da empresa, a perspectiva é que Rússia, Irã e China "continuem seus esforços, inclusive usando IA, e possam empregar táticas que busquem lançar dúvidas sobre a integridade do resultado da eleição".
A mesma conclusão foi revelada pelas agências de inteligência dos EUA.
Num informe de setembro, as autoridades declararam que vários adversários estrangeiros já haviam postado inúmeros deepfakes na Internet. A Rússia foi que mais os utilizou, espalhando "narrativas conspiratórias" e amplificando "questões que dividem os EUA, como a imigração", a fim de ajudar Trump e prejudicar os democratas.
O relatório observou que uma das falsificações de maior circulação da Rússia foi um vídeo de uma mulher em uma cadeira de rodas alegando que Kamala Harris a havia incapacitado em um acidente de atropelamento e fuga.
Já o Irã usou IA "para ajudar a gerar publicações nas mídias sociais e escrever artigos de notícias não autênticos". A China estava "usando IA em operações de influência mais amplas", mas "não em operações específicas voltadas para os resultados eleitorais dos EUA".
Num recente artigo, a revista The New Yorker revelou como antigos governos americanos erraram ao lidar com a interferência externa em suas eleições. De acordo com a publicação, desde 28 de julho de 2016, quando o diretor da CIA começou a informar o presidente Barack Obama sobre a conspiração do Kremlin para ajudar a eleger Donald Trump, Obama decidiu não alertar o público antes do dia da eleição sobre a extensão total da conspiração russa, temendo que isso pudesse prejudicar a vitória de Hillary Clinton, amplamente esperada.
"Essa, ao que parece, foi a preocupação errada", destacou a revista, com base em entrevistas com especialistas e ex-agentes. As agências de inteligência dos EUA esperaram até dois meses depois de Trump vencer para expor a escala abrangente da operação russa.
Hoje, o atual governo americano insiste que fez progressos na identificação da interferência estrangeira em suas eleições. Mas o assessor de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, reconheceu que não há como declarar vitória nesse caso.
"Acho que fizemos progresso nisso, mas há um longo caminho a percorrer para chegar onde precisamos estar", completou.
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4 comentários
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Laura Correa Guarnieri
É a primeira vez que discordo do autor. Ele sempre foi ótimo em suas análises! Mas, cair de cabeça no conto do vigário que outros países estão influenciando as eleições americanas, é cair no engodo dos democratas. Os democratas parceiros dos genocídios em Gaza, Líbano, são os únicos responsáveis pelas manifestações pró Palestina nas universidades americanas. Realmente, parece que o autor padece de ter sido vítima de lavagem cerebral. A mesma, que através de propaganda conseguiu transformar uma medíocre vice presidente em uma grande estadista, em apenas algumas semanas.
Teobaldo Alberto Wilsmann
Democratas é o partido dos escravagistas do sul dos usa
Carlos Thadeu de Queiroz Rocha
Texto copiado e modificado