Jamil Chade

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Reportagem

Trump faz ameaça à agenda de Lula que quer 'driblar' o dólar para o Brics

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, lançou uma ameaça contra o Brasil e os demais países do Brics. Segundo ele, se o bloco optar por criar uma moeda alternativa ao dólar, os países serão sobretaxados em 100% para qualquer produto que seja exportado ao mercado dos EUA.

O recado, porém, vem num momento que o Brasil se prepara para assumir a presidência do bloco e quer colocar o debate da moeda como um dos pilares dos trabalhos em 2025.

"Exigimos que esses países se comprometam a não criar uma nova moeda do Brics, nem apoiar qualquer outra moeda que substitua o poderoso dólar americano, caso contrário, eles sofrerão 100% de tarifas e deverão dizer adeus às vendas para a maravilhosa economia norte-americana", escreveu Trump em sua rede social, Truth Social.

Essa não é a primeira vez que Trump faz a ameaça. Em outubro, ele usou exatamente o mesmo argumento. Naquele momento, porém, ele era apenas um candidato.

"Eles podem procurar outro 'otário'. Não há nenhuma chance dos Brics substituírem o dólar americano no comércio internacional, e qualquer país que tentar deve dizer adeus aos Estados Unidos", disse Trump, neste sábado.

O dólar representava 85% das reservas globais em 1970, proporção que caiu para 58% hoje, de acordo com o FMI. O euro representa 20%, contra um volume ainda insignificante das demais moedas.

A ameaça, porém, vai ao centro de um dos pilares da agenda brasileira para a presidência do Brics, ao longo de 2025.

No próximo ano, uma das bandeiras da presidência do Brasil no Brics será o avanço da ideia de criar um mecanismo que permita as trocas comerciais em moedas nacionais, sem passar pelo dólar.

O governo brasileiro sabe das dificuldades que terá e quer impedir que o debate se transforme em uma disputa contra os EUA. Dentro do governo brasileiro, vozes começam a se movimentar para trabalhar qual seria a agenda do governo Lula quando, no final do ano, o país assumir a presidência do Brics.

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De acordo com o Planalto, a primeira reunião da presidência brasileira do bloco ocorrerá em fevereiro, poucos dias depois da posse de Trump. A expectativa é de que o encontro seja crítico para definir a agenda de trabalho do ano e as prioridades. No Itamaraty, diferentes embaixadores reagiram de forma preocupada com a atenção que Trump vem dando ao Brics.

Se, na presidência russa, o tom do Brics foi de oposição ao ocidente e um discurso antissistema, o Brasil quer adotar uma postura de "ponte" entre os emergentes e o G7.

Uma das possibilidades seria destravar o debate sobre a moeda, sem que isso signifique uma afronta às sanções ou às potências ocidentais.

Entre as ideias, circula a possibilidade de criar um grupo de trabalho com a missão de examinar a possibilidade de criar uma unidade de conta, o que poderia ser um embrião de uma moeda comum. A função, durante a presidência brasileira do bloco em 2025, seria então criar um mapa de como desenvolver a ideia e passos concretos para os próximos anos.

O grupo, no entanto, não seria composto apenas por economias e especialistas dos países emergentes. O convite a eminências dos EUA ou Europa poderia ser um caminho para dar um sinal de que o projeto não é um ataque ao ocidente.

A avaliação entre negociadores brasileiros é que Lula na presidência do Brics pode ser uma "oportunidade rara de legitimidade" para apresentar um projeto ousado e que, na voz de outros emergentes, poderia soar como um ataque frontal contra os EUA.

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Ofensiva dos Brics tem como meta reduzir o uso do dólar e a dependência em relação à moeda americana. Conforme os próprios diplomatas apontam, porém, não se trata de uma questão financeira, mas de um posicionamento geopolítico de enormes proporções.

Já para o governo americano, a redução do papel do dólar não significa apenas uma perda de hegemonia. Parte das sanções unilaterais aplicadas pelos EUA é no sistema financeiro, diante da presença dominante do dólar. Um país, portanto, pode ser asfixiado apenas ao ser impedido de usar a moeda americana. Mas, se um sistema financeiro paralelo for criado com moedas alternativas, o poder da Casa Branca de impor sanções é radicalmente reduzido.

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