Nomeado por Trump para Pentágono é acusado de bêbado e assédio sexual
Pete Hegseth, nomeado por Donald Trump para liderar o Departamento de Defesa, é alvo de protestos e questionamentos, inclusive sobre seu suposto comportamento sexual, uso abusivo de álcool, crítica ao direito internacional, acusações de infidelidade e acordos confidenciais com uma mulher que o acusou de assédio.
Nesta terça-feira, durante uma sabatina no Senado americano, o escolhido pelo republicano prometeu "paz por força" e disse quer recebeu mandato de trazer o "ethos guerreiro de volta para o Pentágono".
Mas seu discurso de apresentação, com repetidas referências a Deus, revelou o mal-estar da escolha de Trump. Por três ocasiões, o Senado foi obrigado a suspender a sabatina, diante de protestos de pessoas do público, atacando Hegseth. Todos os manifestantes foram carregados para fora da sala por parte dos seguranças do Senado.
Um dos protestos acusou Hegseth de ser "um cristão sionista". Em resposta, o nomeado apenas insistiu que apoia os esforços de Israel para "matar cada membro do Hamas". Outro manifestante ainda gritou acusações de "20 anos de genocídio".
Entre os democratas, vários senadores apontaram que o nomeado não tem experiência de administração suficiente. "Não conheço uma empresa com 3 milhões de funcionários - que é o que nossas forças têm - que contrataria um CEO que jamais administrou uma empresa de mais de cem pessoas", disse o senador de Michigan, Gary Peters. "Você não me convence", insistiu.
Se confirmado, o âncora do canal Fox News e veterano de guerra, Pete Hegseth, vai liderar um departamento com um orçamento de US$ 900 bilhões. Hegseth já fez parte da Guarda Nacional do Exército e serviu no Afeganistão, no Iraque e na Baía de Guantánamo, em Cuba. A Fox News foi um dos braços da campanha de Trump na eleição.
Mas seu histórico de assédio e comportamento tem sido alvo de debates. Um dia após anunciar Pete Hegseth como secretário de Defesa, a equipe de Trump foi informada de que o escolhido havia sido investigado pela polícia na Califórnia por assédio sexual, em 2017.
O suposto ato ocorreu durante uma conferência de mulheres republicanas e ele não foi indiciado. Mas o tema despertou preocupação entre republicanos sobre os riscos de alguns de seus escolhidos e abriu questionamentos.
Tim Kaine, senador democrata da Virgínia, usou a sabatina para pressionar o nomeado diante da informação de que ele teria traído sua segunda esposa, dois meses depois do nascimento de um de seus filhos. Hegseth insistiu que se tratava de notícias baseadas em fontes anônimas.
Na sabatina, Jack Reed, senador democrata de Rhode Island, destacou ainda as acusações de assédio sexual, violência doméstica e abuso de álcool que foram apresentadas contra Hegseth. "Essas alegações impediriam que qualquer pessoa fosse nomeado para os serviços públicos. Imagine para ser o secretário de Defesa", alertou.
Mais uma vez, o nomeado por Trump optou por acusar a "imprensa de esquerda" pelas notícias. "Sofri uma campanha organizada de difamação. São histórias a partir de fontes anônimas", insistiu.
Ele, porém, apelou para Deus em sua resposta e fez referências a uma chance de "redenção". "Não sou perfeito", disse, insistindo em incluir em seu discurso seu amor por sua atual esposa.
Mulheres e mães
Um dos pontos centrais ainda da sabatina foi sua rejeição ao papel das mulheres nas forças armadas, conforme ele mesmo escreveu em um livro.
"Os pais nos incentivam a correr riscos. As mães colocam as rodinhas de treinamento em nossas bicicletas. Precisamos de mães. Mas não nas forças armadas, especialmente nas unidades de combate", disse o nomeado, em uma publicação.
Durante a sabatina, o escolhido por Trump flexibilizou sua postura. Elizabeth Warren, senadora democrata de Massachusets, apresentou um histórico de todas suas declarações contra mulheres nas forças armadas e questionou sua mudança de postura. "Por doze anos sua visão era consistente (contra mulheres)", insistiu.
Para Kirsten Gillibrand, senadora democrata de Nova York, o nomeado reduz o papel das mulheres. Jeanne Shaheen, senadora democrata de New Hampshire, também criticou a recusa do nomeado em aceitar que mulheres possam servir nas forças armadas, nas mesmas condições que homens. Hoje, cerca de 400 mil mulheres são militares nos EUA.
Bêbado em trabalho
Mazie Hirono, senadora do Havaí, questionou o escolhido de Trump sobre alegações de ele estar "bêbado em trabalho" em "repetidas ocasiões", e insistiu que esses relatos tinham sido apresentados por ex-companheiros de Hegsteth. O nomeado qualificou a alegação de ser "falsa".
Mark Kelly, senador do Arizona, listou pelo menos cinco casos de abuso de álcool em locais públicos, inclusive por parte funcionários da Fox News. Hegseth, porém, insistiu que todos esses casos eram "difamações anônimas". "Não são acusações anônimas. Temos os nomes dessas pessoas", rebateu o senador.
Questionado se irá usar exército para invadir Groenlândia ou retomar o Canal do Panamá, ele ainda se recusou a responder.
Numa recente entrevista para um site cristão, o apresentador afirmou que acredita que "a falta de pais - de homens - em muitas famílias americanas modernas é uma catástrofe". "Os pais traçam o curso e lideram o caminho para suas famílias e filhos; um caminho que deve levar a Jesus Cristo", disse.
Tortura de volta?
Os senadores ainda pressionaram o nomeado diante de declarações suas questionando o direito internacional e as Convenções de Genebra - que impedem tortura. Os membros do Senado insistiram em saber se, com ele no comando, as forças americanas cometeriam atos de tortura.
O escolhido por Trump não esclareceu, e apenas insistiu que não seriam órgãos internacionais que iriam determinar como os americanos lutariam.
A sabatina ainda foi marcada por uma tentativa por parte de senadores republicanos de sair ao resgate do nomeado. Markwayne Mullin, senador de Oklahoma, admitiu que Hegseth havia "cometido erros, como todos nós" e também recorreu a Deus como explicação de uma nova chance. Durante o debate, uma de suas perguntas ao nomeado foi ainda o motivo pelo qual ele amava sua atual esposa.
Para os senadores republicanos, Hegseth é um candidato "não convencional" para o cargo. Mas insistem que é alguém com essas características que os EUA precisam.
9 comentários
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Weber Batista de Oliveira
Eu gostaria muito de saber qual a guerra que essa suposta e poderosa força militar deste pais ganhou? Qual o conflito que eles entraram e venceram! Não vale America Latina, aqui existe troca de banana. A única que ganham sempre é a grana para a industria belica.
Leandro Schmaedeke
Investigado por assédio sexual, traição à mulher? Parece clone do trampa, só falta ser criminoso condenado também.
Maria Lúcia Carvalho Marques
Escolhido de acordo com o perfil de Trump.