Gabinete de Netanyahu aprova cessar-fogo com Hamas e acordo sobre reféns

O gabinete de segurança do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, votou de forma favorável ao acordo para um cessar-fogo com o Hamas, depois de ver seu governo chegar perto de um colapso. O líder israelense confirmou que o pacto que suspende de forma temporária 15 meses de conflito e que deixaram 46 mil mortos. Ainda que tenha de passar por uma segunda votação, reunindo todo o gabinete e ainda nesta sexta-feira, o próprio governo indicou que considera que o plano pode começar a entrar em vigor no domingo, dia 19.
"Sujeito à aprovação do gabinete e do governo, e à implementação do acordo, a libertação dos reféns pode prosseguir de acordo com a estrutura planejada, com a expectativa de que os reféns sejam libertados já no domingo", disse o gabinete, em um comunicado.
Num primeiro momento, 33 dos 98 reféns israelenses serão liberados pelo Hamas. Em troca, Israel irá gradualmente sair de determinadas áreas da Faixa de Gaza e devolver cerca de mil palestinos detidos.
Em troca, Israel liberaria 50 prisioneiros palestinos para cada soldada israelense libertada pelo Hamas e 30 para outras mulheres reféns.
Israel ainda permitirá que até 600 caminhões de ajuda possam entrar na zona atacada. Hoje, apenas 50 caminhões conseguem a liberação para distribuir alimentos e remédios.
O acordo ainda prevê que palestinos possam voltar a circular internamente em Gaza, desde que não estejam armados.
A segunda fase do acordo ainda está em negociação e vai depender da implementação do atual acordo. Ela envolveria a retirada completa das tropas de Israel e a libertação dos demais reféns. Na última fase, haveria uma troca dos corpos de reféns e palestinos mortos, assim como o anúncio de um plano de reconstrução de Gaza. O que não se sabe ainda é como seria o governo da região, já que Netanyahu insistiu que a guerra apenas terminaria quando o Hamas fosse aniquilado.
O acordo havia sido anunciado inicialmente na quarta-feira (16) e comemorado inclusive por Donald Trump. Mas Tel Aviv, um dia depois, denunciou o Hamas por estar tentando supostamente minar o processo e alertou que não acataria as exigências. O grupo palestino desmentiu Netanyahu, enquanto os negociadores continuaram a tentar impedir o colapso do processo.
Festas substituídas pelo luto: 87 mortos em 24 horas
A comemoração da população de Gaza, na quarta-feira, rapidamente se transformou em mais um período de luto. Entre o primeiro anúncio do acordo e a declaração desta sexta-feira por parte de Netanyahu, pelo menos 87 palestinos foram mortos, entre eles 21 crianças e 25 mulheres.
Na manhã de sexta-feira, Netanyahu anunciou que convocou uma reunião do gabinete de segurança, com o objetivo de votar o acerto. O que acabou ocorrendo.
"O gabinete completo se reunirá posteriormente para aprovar o acordo", acrescenta a declaração. O segundo encontro deve ocorrer apenas no sábado.
Netanyahu insistiu que a decisão de aceitar o pacto só ocorreu depois que sua delegação, nas conversas mantidas no Qatar com o Hamas, informou que o processo havia sido concluído. Num comunicado, o governo explicou que as famílias dos 98 reféns também foram informadas.
"O Estado de Israel está comprometido em atingir todos os objetivos da guerra, incluindo o retorno de todos os nossos reféns, tanto os vivos quanto os mortos", declarou.
Netanyahu teve de negociar sua manutenção no poder, antes de fechar acordo
Ainda assim, o voto promete ser polêmico. Três dos ministros de Netanyahu, da extrema direita, alertaram que iriam pedir demissão se Israel encerrar a guerra contra o Hamas. Um deles, o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, deixou claro que o pacto era "irresponsável" e "imprudente".
Com seu governo ameaçado, Netanyahu costurou novas alianças. O líder da oposição, Yair Lapid, prometeu seu apoio, indicando que o acordo era prioridade.
O primeiro-ministro insistiu, durante meses, que apenas encerraria a ofensiva sobre Gaza quando aniquilasse o Hamas. O cessar-fogo, agora, não prevê isso. Mas pesquisas apontam que 60% dos israelenses acreditam que o retorno dos reféns deve ser considerado como o objetivo da guerra.
Nas últimas horas, Netanyahu foi colocado sob forte pressão, tanto por parte dos enviados de Trump como por parte do Egito, que também atuou na mediação.
Do lado do Hamas, o grupo foi enfraquecido diante da queda do governo sírio de Bashar Al Assad, do colapso do Hezbollah e do enfraquecimento do Irã.
O acordo terá três fases, ainda que apenas a primeira esteja delineada em detalhes.
O que diz o acordo em sua primeira fase
Corredor Philadelphi:
O lado israelense reduzirá gradualmente as forças na área do corredor durante o estágio 1 com base nos mapas anexos e no acordo entre os dois lados.
Após a libertação do último refém da primeira fase, no dia 42, as forças israelenses iniciarão a retirada e a concluirão no máximo no dia 50.
Passagem de fronteira de Rafa:
A passagem de Rafa estará pronta para a transferência de civis e feridos após a libertação de todas as mulheres (civis e soldados). Israel trabalhará para que a passagem esteja pronta assim que o acordo for assinado.
As forças israelenses serão redistribuídas em torno da passagem de Rafa de acordo com os mapas anexos.
Retirada das forças israelenses para o leste das áreas densamente povoadas ao longo das fronteiras da Faixa de Gaza, incluindo Wadi Gaza (eixo de Netzarim e rotatória do Kuwait). As forças israelenses serão posicionadas em um perímetro de (700) metros, com uma exceção em pontos localizados a serem aumentados em não mais que (400) metros adicionais que o lado israelense determinará, ao sul e a oeste da fronteira, e com base nos mapas acordados por ambos os lados que acompanham o acordo.
Troca de prisioneiros:
Os nove doentes e feridos da lista de 33 serão libertados em troca da libertação de 110 prisioneiros palestinos com sentenças de prisão perpétua.
Israel libertará 1.000 prisioneiros de Gaza a partir de 8 de outubro de 2023 que não estavam envolvidos no 7 de outubro de 2023.
Os idosos (homens com mais de 50 anos) da lista de 33 serão libertados em troca de uma chave de troca de 1:3 sentenças de prisão perpétua + 1:27 outras sentenças.
Ebra Mangesto e Hesham el-Sayed - serão libertados de acordo com uma chave de troca de 1:30, bem como 47 prisioneiros de Shalit.
Vários prisioneiros palestinos serão libertados no exterior ou em Gaza com base em listas acordadas entre os dois lados.
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