Governo Trump quer usar caso Abin para fortalecer aliança com Paraguai
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O governo de Donald Trump quer usar a crise que eclodiu entre o Brasil e o Paraguai para consolidar sua aproximação ao governo de Assunção e fortalecer sua presença na América do Sul.
O UOL revelou como a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) realizou uma ação hacker contra autoridades do governo do Paraguai. A ação hacker consistiu na invasão de dispositivos de informática de autoridades paraguaias. De acordo com as informações de investigação da Polícia Federal, foi planejada no final do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e executada na
gestão do presidente Lula.
O governo brasileiro se apressou para negar qualquer tipo de envolvimento e garantiu que respeita a soberania de todos seus vizinhos.
Mesmo assim, o governo do Paraguai decidiu convocar de volta ao país seu embaixador no Brasil, Juan Ángel Delgadillo, e pedir explicações detalhadas ao governo brasileiro sobre a ação hacker realizada contra o país para obter informações sobre a negociação do tratado envolvendo a usina hidrelétrica de Itaipu.
O gesto é considerado na diplomacia como um ato de protesto e uma sinalização de que existe um descontentamento na relação bilateral.
Coube ao ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Rubén Ramírez Lezcano, anunciar as medidas em uma coletiva de imprensa.
Em Washington, que tem como objetivo redesenhar o mapa de influência na América Latina, a crise está sendo acompanhada de perto e vista como uma oportunidade para reforçar seu discurso aos paraguaios de que são eles —e não o Brasil— seus maiores aliados.
Dentro do governo brasileiro, a preocupação em torno do fortalecimento da aliança entre Assunção e Trump já existia antes mesmo da eclosão do caso da Abin. "Agora, eles têm a justificativa que precisavam", alertou um experiente embaixador.
A crise não acontece num bom momento entre os dois países. No mês passado, o mesmo chanceler paraguaio que anunciou a convocação do embaixador foi obrigado a desistir de sua candidatura para liderar a OEA (Organização dos Estados Americanos) depois de uma intervenção liderada pelo Brasil.
O paraguaio, antes mesmo de Trump assumir, viajou para a Flórida e se reuniu tanto com Trump como com Elon Musk.
Temendo a vitória de um nome apoiado pela Casa Branca, movimentos sociais, diplomatas e negociadores pressionaram o Brasil a formar uma aliança de países progressistas para apoiar o candidato do Suriname. Na posse do novo presidente do Uruguai, no começo de março, a manobra foi concretizada e Chile, Colômbia e outros países fecharam o apoio ao opositor do paraguaio.
Vendo que não tinha chances, o chanceler paraguaio se retirou da corrida. Mesmo assim, num comunicado, o governo de Assunção deixou claro que existia um mal-estar com o Brasil.
"Nos últimos dias, de forma abrupta e inexplicável, o Paraguai foi informado por países amigos da região, com os quais compartilhamos um espaço e uma história comuns, que eles modificaram seu compromisso inicial com nosso país e decidiram não apoiar a proposta do Paraguai", disse Santiago Peña, presidente do Paraguai.
Ele ainda completou, dizendo que "o Paraguai, ao longo de sua rica história, tem sido um país que sempre baseou suas posições em princípios e valores tão elevados, e não renunciará a eles em uma eleição ou conjuntura específica".
Nos bastidores, o gesto foi usado por grupos que apoiam uma aproximação do Paraguai a Trump para reforçar a ideia de que Brasília não irá bancar os interesses do país e que Washington seria um aliado mais adequado.
Na Casa Branca, a ordem também passou a ser a de elogiar os paraguaios, usando o país como exemplo de como uma economia sul-americana pode ganhar se optar por ficar ao lado dos EUA.
O Paraguai não disfarçou a satisfação quando foi citado como exemplo por parte da Casa Branca ao não ceder às pressões da China e manter sua relação diplomática com Taiwan.
"Acho que é importante reconhecer os aliados na região, como o Paraguai, que não cederam para a China", disse o secretário de Estado, Marco Rubio, ao ser alvo de questionamentos em sua sabatina no Senado americano.
No dia 5 de março, Rubio ainda telefonou para o presidente do Paraguai, Santiago Peña, para parabeniza-lo pela aquisição de um sistema de radar militar de uma empresa dos EUA.
"Essa compra dará suporte à vigilância aérea para combater o tráfico de narcóticos e armas, ao mesmo tempo em que apoia o crescimento econômico de ambos os países", afirmou o gabinete de Rubio.
"O Secretário Rubio e o Presidente Peña afirmaram a natureza duradoura da relação bilateral entre os EUA e o Paraguai e reiteraram seu interesse em aprofundar nossa parceria em tópicos como defesa, combate ao narcotráfico e infraestrutura de telecomunicações", indicou o Departamento de Estado.
Em janeiro, Peña havia feito uma visita aos EUA e manteve encontros com a base de Trump no Senado.
Um dos encontros foi com o senador Bill Cassidy. "Discutimos o potencial do intercâmbio comercial, dos investimentos e da integração de recursos humanos e tecnológicos para fortalecer nossa região. Enfatizei a importância de continuar fomentando os laços com o Congresso dos EUA e o compromisso compartilhado de fortalecer a democracia por meio da Organização dos Estados Americanos", disse o presidente.
40 comentários
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Marcos Fernandes dos Santos
Colunistas ficaram indignados, quando aconteceu com a Dilma, agora, tem alguns dizendo que é normal essa espionagem contra países, hipocrisia total.
Gutemberg Ferro
Esse tipo de reportagem é lesiva ao Brasil. É só ver as consequências que gerou. Um 'furo" de reportagem e um ' imbróglio " para o país. Sem esquecer que isso ocorreu no governo passado
João Luís Nery
A unica coisa que interessa de Itaipu para o governo do 9, é a $$$$$$. Os escandalos e desvios de $$$$ já voltaram com tudo. Mas desta vez os petistas tem certeza da impunidade. O amigo do amigo do pai do cara, junto com seus colegas, deu carta branca.