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Jeferson Tenório

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula e Bolsonaro: um 2º turno difícil, acirrado e violento nos espera

Jeferson Tenório

Colunista do UOL

03/10/2022 04h00

Os resultados das eleições de ontem provaram mais uma vez que a onda conservadora e ultradireitista chegou para ficar no Brasil. Entramos num caminho sem volta. Ainda que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja eleito no segundo turno, sua administração não será fácil. Uma bancada de senadores bolsonaristas foi eleita e poderá dificultar a vida do ex-presidente.

Com uma votação expressiva, Jair Bolsonaro (PL) chega mais fortalecido do que as pesquisas apontavam. Pois, enquanto a esquerda, de modo geral, acreditava numa desidratação do atual presidente, a militância bolsonarista mostrou que está muito além do cercadinho. Mostrou que está mobilizada e que de fato acredita na reeleição. Assim, uma boa parte do Brasil parece ter encontrado uma voz que represente essa visão fascista.

O bolsonarismo mostrou sua força e as alianças serão decisivas para Lula. Os institutos de pesquisa chegaram a apontar a possibilidade de vitória de Lula já no primeiro turno. O que não ocorreu. No entanto, a porcentagem prevista para o petista se aproximou da realidade: 48,24%. O inesperado mesmo foi a previsão que apontava 36% para Bolsonaro, mas que acabou com um número de votos expressivo 43,34%. Resultados que, de certo modo, põem em xeque a metodologia das pesquisas.

Entretanto, não podemos esquecer que uma pesquisa é sempre uma pesquisa, é uma projeção, e por mais que ela tenha métodos confiáveis, são as pessoas quem as respondem, e essas mesmas pessoas, por vezes, são imprevisíveis e podem trocar de voto a qualquer momento. Esse grau de imprevisibilidade talvez escape aos institutos de pesquisa.

O fato que o caminho para Lula ficou mais difícil com a resposta bolsonarista nas urnas. O que obriga a militância petista rever suas estratégias, e mais do que isso, compreender que raízes ultraconservadoras tem um poder de mobilização que, talvez, ainda não conseguimos captar exatamente de que modo ela opera para além do uso de fake news.

Com uma margem tão apertada teremos certamente um segundo turno virulento, ainda mais agora com uma militância bolsonarista revigorada e pronta para levar novamente Bolsonaro à presidência. Por outro lado, nem tudo é terra arrasada para Lula, o petista venceu o primeiro turno, tem uma sólida militância e já tem feito acenos para Simone Tebet, figura que agora se torna decisiva nos próximos capítulos desta eleição. Ao passo que Ciro sai da disputa apequenado e com o rótulo de ter ajudado Bolsonaro a chegar ao segundo turno.

As eleições também revelaram um Brasil profundo e complexo que ainda opta por continuar com presidente ultradireitista. Por outro lado, existe também uma resistência ao discurso fascista, uma resistência expressiva, eu diria. Lula ainda tem uma capacidade enorme de mobilização da sua base. Resta saber se as forças reacionárias bolsonaristas conseguirão angariar os eleitores de Ciro e Tebet. Por enquanto, fiquemos atentos, pois teremos semanas turbulentas e angustiantes pela frente.