Pablo Marçal tenta capitalizar em cima do ódio e pode se dar mal
Se a ideia de política surgiu como forma de evitar a violência, os debates entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo demonstram exatamente o contrário.
A verdade é que naturalizamos a violência verbal das redes sociais e estamos vendo a migração do ódio para a vida real. Nos acostumamos com "haters" no mundo virtual, com a violência verbal desmedida, e vemos agora uma escalada de violência ao vivo fora das redes.
Para Pablo Marçal, o discurso de ódio virou moeda de troca. Herdeiro de um bolsonarismo rudimentar, o candidato da ultradireita atualizou o modus operandi de Bolsonaro e emprega uma estratégia de provocações e conflitos para capitalizar sobre a reação dos outros candidatos.
Ainda em sua estratégia, Marçal vê na exposição e no ataque direto aos oponentes uma forma de ganhar atenção dos eleitores. Para tanto, é capaz de forjar uma internação depois de ser agredido pelo candidato Datena. É também capaz de dizer que foi tudo fingimento e continuar no jogo. É capaz ainda de se desculpar por mensagem de texto em privado e atacar o adversário dias depois na frente das câmeras.
No entanto, essa estratégia de ataque e conflito constante afasta justamente o eleitor moderado, até porque é visível que quando o discurso de ódio cessa, Marçal não convence com seu plano de governo.
Ou seja, é uma candidatura vazia que se apoia numa lógica de rede social. Mas talvez algumas estratégias como influencer não funcionem bem no mundo concreto. Os eleitores mais analógicos sabem disso e não querem um prefeito que se comporta o tempo todo como um coach alucinado.
O ambiente político agressivo não deixa de ser também reflexo de uma cidade como São Paulo. Os números alarmantes de violência, assaltos e roubos de celulares contrastam com a ideia de uma cidade cosmopolita, que tem o maior PIB do país e que é capaz de acolher quem vem de fora.
O uso da violência na política não pode mais ser ignorado. Não pode mais ser tratado como algo pontual e eventual. Avançamos o sinal vermelho ao normalizar cadeiradas, xingamentos e socos. E as coisas podem piorar. Sabemos que o conflito discursivo, acusações e embates fazem parte do jogo político, mas agora temos um candidato que não segue as regras do jogo e faz isso para chamar atenção de maneira desonesta e antiética.
O TSE, por sua vez, sofre um delay [atraso], ao não conseguir estabelecer regras mais rígidas para conduta de candidatos como Marçal. O tribunal precisa se atualizar e avaliar perfis de candidatos assim, para que, futuramente, não tenhamos uma escalada de violência ainda maior.
A questão é que, se por um lado existe a migração da violência deliberada das redes sociais para vida real na política, por outro, muitos eleitores não acompanham esta mudança na mesma frequência.
Ser um político outsider, contra tudo e contra todos, pressupõe um pouco mais de inteligência nesse momento, coisa que Marçal, até agora, tem deixado a desejar quando se trata de pensar a cidade para além de uma performance tresloucada.
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