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Jeferson Tenório

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Entre o patético e o terror: nasce o bolsoterrorismo nos acampamentos

Jeferson Tenório

Colunista do UOL

26/12/2022 04h00

O bolsonarismo tem nos mostrado que há uma linha tênue entre o patético e o terrorismo. A crise estética pelo já conhecido mau gosto e breguice dos grupos antidemocráticos se confunde com uma organização criminosa que vem ganhando força, principalmente nos acampamentos bolsonaristas.

Fazer contato com extraterrestres usando celulares na cabeça, gritar por invenção militar, marchar de modo descompensado agarrado às bandeiras, se colocar no para brisa de caminhão em alta velocidade, ou passar a noite de Natal na frente de quartéis cantando "noite feliz" podem servir para memes e deboches.

Entretanto, esses acampamentos têm servido de incubadora para o nascimento e manutenção do Bolsoterrorismo.

Não acho que o bolsonarismo seja apenas uma questão ideológica. A resiliência desses grupos demonstra que estamos diante de um fenômeno identitário. Isso significa que, mais do que dar voz e visibilidade aos lunáticos da frente dos quartéis, Bolsonaro ofereceu aos medíocres uma oportunidade única de serem notados.

O bolsonarismo é a busca para ser visto. É a tentativa do homem de bem, sem moral e sem ética, ter a sensação de protagonismo.

Quando Bolsonaro dizia "Deus acima de todos", lia-se "Eu acima de todos". Pois, ao se colocar no lugar de "Deus", Bolsonaro não emprestou apenas uma ideologia, mas uma identidade aos invisíveis, aos que sempre perderam, aos que sempre carregaram uma vida vazia e frustrada. E que agora se colocaram no lugar de Deus. Como se estivessem numa missão de vida ou morte. Donos dos destinos da pátria e os únicos que podem salvar o Brasil. Assim são constituídos os grupos antidemocráticos bolsonaristas.

No sábado, véspera de Natal, a Polícia Civil do Distrito Federal encontrou e detonou um artefato explosivo nos arredores do Aeroporto Internacional de Brasília. Segundo o delegado Robson Candido, o suspeito pela tentativa do atentado é um empresário do Pará e que já foi detido. Além disso, em uma busca e apreensão em sua residência foram encontrados mais explosivos, diversas armas e um fuzil. O que comprova que o empresário planejava executar outros atentados.

Com tudo isso, é inegável que o Bolsoterrorismo ganhou força e deve ser encarado com seriedade e gravidade pelas autoridades. E, por mais que Bolsonaro se mantenha em silêncio, sua postura antidemocrática em não aceitar a derrota estimula atos golpistas e de violência.

O fato é que o terrorismo de Bolsonaro foi sendo gestado ao logo de seu mandato. No entanto, suas últimas ações, como o indulto de Natal concedido aos policiais envolvidos no massacre do Carandiru, o seu silêncio, o seu choro, aliado à complacência dos militares diante dos atos antidemocráticos, fazem parte desse pacote ideológico e identitário que tem insuflado os manifestantes.

É preciso estarmos atentos, pois o patético e o terror estão muito próximos. O risível está próximo do fascismo. O bolsoterrorismo não é uma piada. É uma ação concreta, estimulada e executada pelos homens de bem. Fiquemos de olho.