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Jeferson Tenório

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Tragédia em escola é mais um atestado de que educação continua falhando

Fachada da Escola Estadual Thomázia Montoro, onde adolescente realizou ataques com faca - Herculano Barreto/UOL
Fachada da Escola Estadual Thomázia Montoro, onde adolescente realizou ataques com faca Imagem: Herculano Barreto/UOL

Jeferson Tenório

Colunista do UOL

27/03/2023 18h18Atualizada em 27/03/2023 19h47

A morte de uma professora esfaqueada por um aluno de 13 anos, na Escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo, é mais um episódio trágico, fruto de uma estrutura de ensino sucateada e que não acompanhou as mudanças do seu tempo.

A violência no contexto escolar é antiga. Todos nós, que já passamos por um ensino formal, guardamos na memória algum tipo de violência física ou psicológica. Pois os procedimentos escolares em prol de uma suposta aprendizagem estão intimamente ligados à manutenção da hostilidade.

Os motivos que levaram um adolescente de 13 anos a esfaquear colegas e professores podem ser dos mais diversos. Entretanto, me parece visível que a truculência e a falta de empatia da sociedade se refletem no ambiente escolar, justamente porque as instituições de ensino não estão isentas da violência social. Bem pelo contrário, a escola, na verdade, absorve essa violência em práticas estruturais e pessoais, seja por meio da precarização do ensino, seja pela prática de bullying.

Talvez, numa visão mais superficial, tendamos a acreditar que a escola é uma espécie de ensaio para vida. Creio que não. A escola é a própria vida. Isto é, a vida não para enquanto os alunos aprendem o que é certo ou o que é errado. A escola é um microcosmo que reflete o sentimento social. Por isso, a educação preventiva é importante, justamente porque, de certo modo, ela acaba sendo um espelho da sociedade.

Além disso, não me parece que casos como esses sejam resultados de um rompante pontual. Muito provavelmente, o problema é anterior. Estes ataques geralmente guardam um histórico pesado de rejeição, isolamento e de violências psicológicas. Ou seja, a violência já estava lá, instalada silenciosamente, e pode ter sido alimentada por discursos de ódio tão naturalizados hoje em dia.

A escola precisa, mais do que nunca, acompanhar as mudanças sociais de seu tempo, pois, diante de um ambiente tão vulnerável, ela parece ter perdido suas funções primordiais, como a de formar cidadãos, por exemplo. Ou seja, o trabalho contínuo de formação ética, moral e afetiva tem se perdido, já que, muitas vezes, as necessidades básicas estruturais, como banheiros funcionando ou boas salas de aulas, não são atendidas.

Este trágico capítulo ainda confirma que a ideia de "vigiar e punir" já não dá mais conta do nosso contexto atual. Precisamos de outros instrumentos pedagógicos. Porque, mais que educar alunos para uma vida profissional e acadêmica, a escola precisa educar para a convivência em sociedade. Pois ninguém nasce cidadão, torna-se um. Entretanto, para se tornar um cidadão, é necessário um ensino integrado com as famílias, num ambiente em que a ética e a alteridade sejam valores inegociáveis.

Por fim, não podemos esquecer do significado da morte dessa professora de 71 anos que foi capaz, como último ato de sua existência, de proteger seus alunos.