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Jeferson Tenório

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Inelegibilidade de Bolsonaro pode frear avanço da ultradireita no Brasil

Jair Bolsonaro durante cerimônia de posse de Alexandre de Moraes como presidente do TSE, em 2022 - Antonio Augusto/Divulgaçao TSE
Jair Bolsonaro durante cerimônia de posse de Alexandre de Moraes como presidente do TSE, em 2022 Imagem: Antonio Augusto/Divulgaçao TSE

Colunista do UOL

06/06/2023 13h43

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Após a definição da data de julgamento de Bolsonaro pelo TSE, para o dia 22 de junho, o ex-presidente está mais próximo de se tornar inelegível. O que poderia acarretar numa perda substancial e significativa para os planos da ultradireita no Brasil. Com a cassação de Deltan Dallagnol, o declínio da Lava Jato e, consequentemente, do ex-juiz Sergio Moro, temos um conjunto de derrotas que, a curto prazo, podem enfraquecer o capital simbólico das ideologias fascistas que encontraram abrigo no governo Bolsonaro.

Caso seja condenado, Bolsonaro pode experimentar o começo de uma derrocada política que começou com uma tentativa de um golpe de Estado e acabou com a prisão de seus apoiadores envolvidos nos ataques aos Três Poderes do dia 8 de janeiro.

Para quem não lembra, a ação no TSE apura uma reunião com embaixadores promovida por Bolsonaro, em julho do ano passado, para disseminar notícias falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro. O caso foi aberto pelo PDT.

Segundo a denúncia, acatada em abril pelo Ministério Público Eleitoral, o ex-presidente atacou as instituições eleitorais para descredibilizá-las e, assim, induzir desconfiança na população. Além disso, a fala de Bolsonaro fez uso indevido dos meios de comunicação, seguido de abuso de autoridade, abuso de poder político e desvio claro de finalidade do próprio cargo de presidente da República, justamente porque sua postura era incompatível com o cenário eleitoral e feriu com gravidade tanto o processo eleitoral quando a própria democracia.

Soma-se a isso o engajamento de apoiadores nos acampamentos, que acreditavam que as eleições tinham de fato sido fraudadas, argumento muitas vezes insuflado por falas de Bolsonaro que certamente tiveram influência concreta nos ataques de janeiro. Assim, a expectativa é que os ministros, entre eles Alexandre de Moraes, formem maioria e tornem o ex-presidente inelegível por 8 anos.

Sabemos que a ideologia protofascista que tomou forma no Brasil nos últimos anos tem se solidificado em larga escala. A ascensão bolsonarista era apenas uma questão de tempo, pois, enquanto a sociedade brasileira não resolver profundamente as heranças da escravidão, das desigualdades e dos efeitos da ditadura militar no país, ainda teremos surtos de uma extrema-direita que encontra pouca resistência para se estabelecer por aqui.

O bolsonarismo é maior que Bolsonaro, e creio que não há dúvidas quanto a isso. A ideologia e a política de ódio às minorias já estão muito bem assentadas no Brasil. Entretanto, caso o ex-presidente seja julgado inelegível, o efeito de resfriamento da ultradireita deve vir em pouco tempo. Além disso, a condenação de Bolsonaro poderá ser vista como um recado de que não se pode tudo dentro de um sistema democrático, ainda que este mesmo sistema tenha graves falhas.