Jeferson Tenório

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Opinião

Há mais de 500 anos naturalizamos a morte de negros e pobres

Um menino de 13 anos está morto. Depois de mais uma operação policial. O Brasil não parou por causa disso, pouca comoção, pouco engajamento e Thiago Menezes Flausino, morador da Cidade de Deus, se tornou mais um número nessa trágica e nefasta estatística de crianças e adolescente pobres e negros mortos pela polícia.

A brutalidade dessas ações parece não ter fim. A verdade é que há mais de 500 anos a sociedade escolheu quais corpos são matáveis. A facilidade em tirar a vida de mulheres e homens negros não é apenas uma escolha pessoal de policiais, mas é, antes de tudo, uma política de Estado. Uma visão de mundo que opera numa lógica colonialista e que vê nesses corpos a possibilidade de cometer todo tipo de barbárie contra eles.

A solução do problema não é simples, nem pode ser individualizada. Excessos e a violência de policiais devem ser punidos com rigor. Entretanto, uma sociedade que só pune e não educa transforma policiais em juízes e delega a eles o poder de decidir quem deve morrer. Vigiar e punir pessoas negras com a morte é uma prática que certamente tem seus alicerces na herança escravagista e racista.

A violência policial parece não ter solução num contexto como do Brasil. O despreparo das operações que acreditam que intimidação, humilhações e mortes poderão combater a criminalidade vai contra as ações preventivas e que se utilizem da inteligência e não da força bruta.

As mudanças só virão de fato quando mais homens e mulheres negras comprometidos com as pautas antirracistas ocuparem espaços de poder e de decisão. Além disso, é necessária maior participação popular na gestão da segurança pública, buscando assim uma polícia menos letal e mais comunitária.

Valorizar policiais quanto às políticas salariais, propor novos treinamentos ou protocolos de abordagens e incursões em favelas também são importantes, mas, ainda assim, acredito que há algo mais imprescindível: acabar com a estrutura militarizada que não acredita nos direitos humanos.

Pois, enquanto os direitos humanos forem vistos como um modo de "defender bandido" ou coisa de "comunista" e "esquerdista", ainda teremos tragédias como essas e recorrente naturalização da morte de crianças negras e pobres.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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