Jeferson Tenório

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Opinião

Ampliação das cotas raciais é uma vitória, mas ensino básico ainda agoniza

O Senado aprovou recentemente o projeto de lei que atualiza e amplia a política de cotas raciais e sociais nas universidades federais.

Dentre as mudanças, nessa nova versão está prevista a inclusão de quilombolas. Os critérios socioeconômicos também foram alterados, e a classificação para cotistas passa a considerar estudantes em famílias com renda de até um salário mínimo por pessoa.

As vagas por cotas, portanto, passam a ser distribuídas entre os grupos raciais e de pessoas com deficiência, conforme dados do IBGE, incluindo os quilombolas, que passaram a fazer parte da contagem no último Censo.

O projeto de lei tem a autoria da deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) e teve a coautoria da também deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ).

A manutenção e ampliação do sistema de cotas raciais e sociais é uma grande vitória e deve ser celebrada pela sociedade. A entrada de pessoas pobres e negras no espaço acadêmico vem transformando as universidades brasileiras e, consequentemente, a própria sociedade.

A formação de uma intelectualidade negra hoje em dia se faz mais presente. É possível notar que a gramática antirracista, por exemplo, se popularizou em certa medida, mesmo que em um âmbito histórico e social ainda sejam vistas como pautas secundárias.

Entretanto, é visível as mudanças de mentalidade na universidade no que diz respeito ao reconhecimento dos saberes afrodiaspóricos e indígenas, por exemplo.

Por outro lado, o ensino básico cambaleia e agoniza entre avanços e retrocessos. As condições mínimas para o funcionamento das escolas não são atendidas. Além da constante desvalorização dos profissionais da educação.

Todo esse caos resulta numa evasão escolar assustadora, principalmente no ensino médio, onde muitos estudantes pobres e, em sua maioria, pretos e pardos, abandonam a escola para trabalhar.

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Certamente, o argumento de que é mais importante oferecer um ensino básico de qualidade do que reservar vagas na universidade cai por terra, pois tanto as cotas quanto a melhoria da escola básica são fundamentais. Uma coisa não exclui a outra.

Vejo que, passado esse momento da ampliação das cotas, o governo precisa reunir forças para de fato mudar a realidade das escolas no Brasil. Vivemos numa sociedade extremamente excludente e racista.

Negros e pobres são os que mais sofrem com o abandono do Estado. Pensar nas cotas raciais é importante, mas o projeto de reparação histórica só se completará com um ensino básico de qualidade para todos.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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