Caso de racismo revela que universidade precisa de mais professoras negras
Mais um episódio de racismo envolvendo a Universidade do Rio Grande do Sul veio à tona. O acaso ocorreu em julho deste ano, mas veio a público agora. A professora da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação Glaucia Aparecida Vaz relata que, ao chegar ao prédio da instituição para dar aula, foi verbalmente atacada na recepção por um aluno.
Segundo seu depoimento, o rapaz estava alterado por não concordar com uma nota em uma avaliação e ainda afirmou que ela "não sabia qual era o lugar dela". Em seguida, disse que, mesmo que ela fosse "uma loirinha dos olhos azuis", continuaria sendo perseguida e odiada. A identidade do agressor não foi revelada.
A universidade abriu um processo disciplinar para investigar o caso. Nesta semana, uma comissão com a participação de dois professores e um aluno foi criada para acompanhar o caso. A comissão terá 30 dias para apontar quais medidas serão tomadas em relação ao aluno. Enquanto não há uma definição, o estudante segue frequentando as aulas normalmente, segundo a direção da faculdade.
Casos como esse reforçam a necessidade da ocupação de mais professores negros na universidade.
O sistema de cotas nesses dez anos proporcionou a entrada massiva de pessoas negras e pobres, o que, de certo modo, mudou a cara da universidade brasileira. Trata-se de uma revolução silenciosa que se deu na última década.
Uma revolução que trouxe pautas importantes para o ambiente acadêmico como: racismo estrutural, privilégios da branquitude, críticas aos saberes eurocêntricos e o reconhecimento e valorização dos saberes indígenas e da cultura afrodiaspórica. Não foi pouca coisa.
Uma sociedade que ainda não consegue conceber pessoas negras em cargos de prestígio e de poder reage com violência. Uma mulher negra como professora universitária, por exemplo, é vista como uma peça fora do lugar.
Por isso, a frase do aluno de que a professora "não sabia qual era o lugar dela" confirma a lógica racista, a de que Glaucia não deveria estar ali justamente porque o imaginário da branquitude só concebe pessoas negras em posições subalternas.
O que chama atenção nesse caso é que a reivindicação do aluno era porque não teria alcançado a nota máxima. Segundo a professora, o aluno teria tirado 14, e não 15, que é a pontuação mais alta. O que só reforça um comportamento de alguém bastante incomodado com a figura de uma professora negra universitária.
As cotas raciais fazem parte de uma luta histórica dos movimentos negros e sociais. Beneficiou e continua beneficiando uma parte da população negra.
No entanto, precisamos avançar na ocupação de outros espaços, pois, para além da reparação histórica, precisamos sobretudo naturalizar a presença de pessoas negras em todos os postos da sociedade.
Enquanto Glaucia Aparecida Vaz for uma das poucas professoras negras dessa universidade, casos como esses, infelizmente, tendem a se repetir.
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