Jeferson Tenório

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Opinião

O tempo das desculpas já passou: precisamos de reparação econômica

O Ministério Publico Federal abriu um inquérito para apurar a participação e responsabilidade do Banco do Brasil na escravidão. A manifestação do MP veio após o pedido de desculpas através de um comunicado do banco, em 18 de novembro deste ano:

"Direta ou indiretamente, toda a sociedade brasileira deveria pedir desculpas ao povo negro por algum tipo de participação naquele momento triste da história. Nesse contexto, o Banco do Brasil de hoje pede perdão ao povo negro pelas suas versões predecessoras e trabalha para enfrentar o racismo estrutural no pais", disse Tarciana Medeiros, que é a primeira mulher negra a presidir a instituição.

O Ministério Público se manifestou dizendo que:

"Se, por um lado, é inadmissível que convivamos com o apagamento e o silêncio ante essa tragédia histórica, mostra-se fundamental, por outro, que não nos limitemos a um mero pedido de desculpas, por melhores que sejam as intenções (...) O pedido de desculpas já foi realizado, com ótima recepção de toda a sociedade brasileira. Mas não pode ser a única medida", diz o documento da última sexta-feira, assinado pelos procuradores.

Ser antirracista vai muito além de pedir desculpas por toda a tragédia que a escravidão causou. Embora o banco tenha dito que tem feito ações em prol da diversidade, ainda assim precisamos de reparações econômicas que de fato alterem todo o prejuízo causado à população negra e que perdura até hoje.

Certamente que o pedido de desculpas e o reconhecimento do racismo e da contribuição para escravidão negra são necessários. Na verdade, é o básico para que as mudanças estruturais aconteçam. No entanto, as medidas de reparação ainda são insuficientes e não atacam o grande cerne da questão, que a desigualdade social.

Ou seja, não basta o reconhecimento do racismo. São necessárias ações concretas que impactem na população negra diretamente. São muitos séculos de abandono do Estado, muitos séculos de exclusão e de violências.

Ontem, aliás, foi divulgado o Atlas da Violência, que apontou um aumento significativo da morte de pessoas negras nos últimos anos. O que vem a demostrar o quanto pedidos de desculpas não surtem efeito quando não são acompanhados de resoluções estruturais e que devem passar necessariamente por reparações econômicas como bolsas de estudos, financiamentos diferenciados e até mesmo indenizações.

É preciso sair da lógica do discurso antirracista apenas pelo viés do preconceito. As mudanças devem agir em várias frentes, oferecendo à população negra uma qualidade de vida que passa por uma boa educação, por moradia, acesso à saúde e tantas outras necessidades básicas de que precisamos para sermos de fato reconhecidos como cidadãos.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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