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José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

As ambiguidades de Lula/PT. Quem inventou Joaquim Levy?

Ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, ambos do PT, em foto publicada no Instagram - Reprodução/Instagram
Ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, ambos do PT, em foto publicada no Instagram Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

10/01/2022 12h51

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Três forças colocaram Joaquim Levy no ministério da Fazenda : Lula, Dilma e Mercado Financeiro.

Joaquim Levy produziu uma imensa recessão, colaborou bastante para a queda de Dilma e os responsáveis não aparecem, nem assumem.

Levy efetuou o ajuste fiscal, aumentou o desemprego e com a frieza de um homem das finanças, que tem renda, remeteu milhões de pessoas à pobreza.

Hoje, porta-vozes do Mercado cobram de Mantega e Lula referências ao tempo de Dilma.

É bom, vamos lá: Dilma nos debates para reeleição afirmou com convicção sarcástica que nunca faria o "corta, corta, corta", a que Aécio se referia. Aécio defendia ajuste fiscal. Dilma o execrou.

Ela assumiu e colocou Levy para "dar um sinal ao mercado", como o PT gosta de dizer. E fez exatamente o que Dilma disse que não faria, um "corta, corta" animado. Como foi?

Diante da situação, Lula, que havia insistido em Dilma com a desculpa esfarrapada, que ela tinha direito a um segundo mandato, indicou Trabuco, o chefe do Bradesco.

Direito tinha, mas não era de bom-tom, como lembra Keila Mellman.

A colocar um dono de banco para cuidar da Fazenda. Trabuco, esperto, inclui-se "fora desta" e "subindicou"Joaquim Levy. Lula avalizou. Dizem as más-línguas que foi para se livrar dele no Bradesco por não ir bem, isso não sei, mas o resto foi assim.

Dilma, a valente e tratora, aceitou mansamente a indicação, que contrariava diametralmente suas convicções e o discurso de campanha. Docemente constrangida. Foi leniente, avalizou.

Isso comprovou o motivo pelo qual Lula, embora muita gente no PT o advertisse sobre o malefício da continuidade de Dilma, bateu o pé: ele disse para um dos reclamantes, de fora do PT: "Mas, ela faz tudo o que eu quero". Lula se sentia governando virtualmente, sem o ônus de sentar na cadeira.

Agora, Dilma desapareceu, resvalada para as bordas do Guaíba e da extraordinária Vila Assunção em Porto Alegre, é "persona" oculta nos eventos do PT, Levy desliza no Banco Safra e Lula não "tem nada com isso", assim como não tem nada a ver com o que deu errado. Aliás, ele só responde pelo que deu certo.

Mas, tem mais uma figura que se embutiu nas sombras do esquecimento; o mercado.

O mercado financeiro soltou rojões e abriu champanhe quando Levy foi indicado. Atingira seus objetivos. O Brasil estaria salvo. Muitos colunistas teceram loas a Levy. Que produziu recessão e sofrimento aos mais vulneráveis, com aquela valentia de quem sabe que vai girar a porta e voltar para os salários maviosos do mercado quando cumprir a missão.

O mercado hoje cobra que o PT recorde-se de Dilma, só não lembra que nesse enclave da história estão os meses de Levy, que fez o que o mercado queria e produziu o que vimos adiante.

Gleisi, que gosta de cumprir papel de embaixadora da Venezuela no Brasil, e que foi ministra de Dilma, não alude a Levy. Hoje ela diz que o PT não quer saber do "mimimi" do mercado, mas foi bem subserviente à indicação de Levy. Ouviu mais do que o 'mimimi".

Assim como o governo Dilma seguiu a agenda Paulo Skaf, para energia e desonerações, que Gleisi deve ter espancado da memória. Mercado e empresários são mais bem-vindos no PT do que o vão discurso em vésperas de campanha sugere.

Lula indica Guido para escrever em seu nome na Folha e espalha que deseja colocar um empresário na Economia, segundo Lauro Jardim, jornalista bem informado. Cerca de todos os lados, mas vai enrolar a quem? Talvez os dois lados.

Quis são hoje as questões? Haverá terceira via, isso mete medo no PT. E favorito como está, qual vai ser a política econômica do PT: Guido, Nelson Barbosa, um "neoPalocci"?

Em vez de esclarecer, com a volúpia de Lula de dar sermões e Gleisi com seu estilo "mosca na sopa", o PT resvala pela tangente.

O coração de Gleisi, porta-voz do fundamentalismo do PT, quando no escurinho do quarto, deve vagar "triste e ermo", como o de Fernando Pessoa em 'Vendaval":

(Coração) Tornado a substância dispersa e negada

Do vento sem forma, da noite sem termo

Do abismo e do nada!

Lula e o PT, embora seus fanáticos não apreciem e se exaltem com as críticas assim como os bolsonaristas, têm muitas ambiguidades não esclarecidas, e se sustentam na vantagem, que Bolsonaro lhes concedeu com suas atitudes insanas,

Numa miríade de propostas controversas.

A campanha ainda vai cobrar.