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José Roberto de Toledo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Três novidades sobre a pesquisa Datafolha que passaram batidas

Lula, Bolsonaro, Ciro e Tebet - Reprodução, Cleber Clauber Caetano/PR, Lucas Lima/UOL e Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo, Folhapress
Lula, Bolsonaro, Ciro e Tebet Imagem: Reprodução, Cleber Clauber Caetano/PR, Lucas Lima/UOL e Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo, Folhapress

Colunista do UOL

01/08/2022 16h37

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1) Chance de eleição de Lula no 1º turno com viés de baixa - Pelo Datafolha, Lula tinha 54% dos votos válidos em maio, 53% em junho, e 52% em julho. Para se eleger já em 2 de outubro, Lula precisa receber um voto a mais do que a soma de todos os seus adversários. Seus atuais quatro pontos de vantagem sobre todos os outros juntos estão no limite da margem de erro da pesquisa: os 52% podem ser 50%; e os 48% dos adversários podem ser 50% também. Analisadas uma a uma, as oscilações mensais de Lula foram estatisticamente insignificantes, porém, sempre na mesma direção: para baixo. Nova variação negativa em agosto configuraria uma tendência. Daí o esforço de Lula para convencer outros presidenciáveis a desistirem já.

  • Timing é tudo. Em agosto o governo Bolsonaro começa a despejar mais de R$ 40 bilhões no bolso dos eleitores pobres.

    Essa dinheirama pode ser multiplicada por três por causa do crédito consignado. Bancos e financeiras pretendem usar as mensalidades do Auxílio Brasil como garantia do empréstimo. Vão cobrar juros exorbitantes, mas tem um período de carência. Quem aceitar receber o crédito em agosto ou setembro só vai experimentar o desconto de até 45% no valor do auxílio após a votação, provavelmente em dezembro ou janeiro. O estelionato eleitoral estará consumado.

  • E daí? Lula tem 18 pontos sobre Bolsonaro, não? O objetivo do PT é eleger Lula no 1º turno para diminuir o risco de um autogolpe pelo presidente. O raciocínio petista é que será mais difícil Bolsonaro contestar os resultados da urna no 1º turno porque ele teria que enfrentar não apenas Lula e seus eleitores, mas os 513 deputados federais, 27 senadores e boa parte dos 27 governadores que vierem a ser eleitos em 2 de outubro.

  • A reação ao golpe seria menor no 2º turno, quando apenas um candidato a presidente e um punhado de governadores eleitos seriam prejudicados caso suas vitórias não fossem ratificadas por pressão de Bolsonaro. Além disso, o comparecimento às urnas é historicamente menor no 2º turno do que no 1º: não há mutirão dos candidatos a deputado federal e estadual para levar seus eleitores até os locais de votação.

  • Petista eleito presidente no 1º turno? Nunca antes na história deste país. Nas quatro eleições presidenciais vencidas por candidatos do PT foi necessário um 2º turno de votação para Lula e Dilma alcançarem a maioria absoluta de votos válidos. Lula em 2006 e Dilma em 2010 chegaram perto da façanha, mas o antipetismo se mobilizou na reta final do 1º turno e impediu que eles se elegessem de cara. Não creio em bruxas, mas que "cisne negro" existe, não duvide (apud Nassim Taleb).

2) Ponto que vale por dois - Após a publicação do Datafolha, Lula convenceu André Janones a desistir da própria candidatura em seu favor. Presidenciável pelo pequeno Avante, Janones sabia que não tinha chance. Tentou se valorizar e conseguiu: virou ministeriável. Para Lula, é um grande negócio. O ponto percentual a menos na soma dos adversários conta dobrado. Se os eleitores de Janones migrassem para o petista, Lula voltaria no Datafolha de agosto aos 54% de votos válidos que tinha em maio - em tempo de evitar o viés de baixa para se eleger no 1º turno.

  • Porém, ai, porém. O capital eleitoral conquistado por Janones foi fruto de sua campanha pelo auxílio emergencial de R$ 600 durante a pandemia. Seu eleitorado é, portanto, provável beneficiário do Auxílio Brasil engordado para R$ 600 por Bolsonaro. Pra quem esses eleitores migrarão, para Lula ou para o presidente?
  • O PT tentou, mas não conseguiu implodir a candidatura de Simone Tebet pelo MDB. Se herdasse metade dos dois pontos da emedebista, Lula iria a 55% dos votos válidos.
  • A desistência de Luciano Bivar (União Brasil) não conta: a ordem dos traços não altera o produto.

3) A resiliência de Bolsonaro é notícia - Desde maio, a sequência de más notícias para o governo não parou: disparada dos preços da carne, do leite, do gás; assassinato de jornalista estrangeiro na Amazônia; bolsonarista executando petista a tiros em festa de aniversário; ministro evangélico demitido por corrupção; escândalo na distribuição de verbas do orçamento secreto; palanque ao lado de ex e futuros presidiários... E, mesmo assim, a intenção de voto em Bolsonaro não caiu. Ao contrário.

  • Desde maio, a intenção de voto espontânea em Bolsonaro foi de 22% para 26%, enquanto a de Lula ficou estacionada em 38%. A taxa espontânea é difícil de cair porque o eleitor está mais convicto de sua escolha, não precisa ver/ouvir a lista de candidatos apresentada pelo entrevistador como na estimulada.
  • 90% dos eleitores de Bolsonaro dizem seu nome espontaneamente; essa taxa é 81% para Lula e 38% para Ciro Gomes.
  • Pergunta do mês de agosto: Se com maré vazante a intenção de voto em Bolsonaro não caiu, o que acontecerá quando sua popularidade começar a encher com o estelionato eleitoral do auxílio de R$ 600 reais x 3 por causa do crédito consignado?
PS: se o estilo deste texto fez o leitor se lembrar dos textos do Axios não é mera coincidência.