Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Três novidades sobre a pesquisa Datafolha que passaram batidas
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
1) Chance de eleição de Lula no 1º turno com viés de baixa - Pelo Datafolha, Lula tinha 54% dos votos válidos em maio, 53% em junho, e 52% em julho. Para se eleger já em 2 de outubro, Lula precisa receber um voto a mais do que a soma de todos os seus adversários. Seus atuais quatro pontos de vantagem sobre todos os outros juntos estão no limite da margem de erro da pesquisa: os 52% podem ser 50%; e os 48% dos adversários podem ser 50% também. Analisadas uma a uma, as oscilações mensais de Lula foram estatisticamente insignificantes, porém, sempre na mesma direção: para baixo. Nova variação negativa em agosto configuraria uma tendência. Daí o esforço de Lula para convencer outros presidenciáveis a desistirem já.
Timing é tudo. Em agosto o governo Bolsonaro começa a despejar mais de R$ 40 bilhões no bolso dos eleitores pobres.
Essa dinheirama pode ser multiplicada por três por causa do crédito consignado. Bancos e financeiras pretendem usar as mensalidades do Auxílio Brasil como garantia do empréstimo. Vão cobrar juros exorbitantes, mas tem um período de carência. Quem aceitar receber o crédito em agosto ou setembro só vai experimentar o desconto de até 45% no valor do auxílio após a votação, provavelmente em dezembro ou janeiro. O estelionato eleitoral estará consumado.
E daí? Lula tem 18 pontos sobre Bolsonaro, não? O objetivo do PT é eleger Lula no 1º turno para diminuir o risco de um autogolpe pelo presidente. O raciocínio petista é que será mais difícil Bolsonaro contestar os resultados da urna no 1º turno porque ele teria que enfrentar não apenas Lula e seus eleitores, mas os 513 deputados federais, 27 senadores e boa parte dos 27 governadores que vierem a ser eleitos em 2 de outubro.
A reação ao golpe seria menor no 2º turno, quando apenas um candidato a presidente e um punhado de governadores eleitos seriam prejudicados caso suas vitórias não fossem ratificadas por pressão de Bolsonaro. Além disso, o comparecimento às urnas é historicamente menor no 2º turno do que no 1º: não há mutirão dos candidatos a deputado federal e estadual para levar seus eleitores até os locais de votação.
Petista eleito presidente no 1º turno? Nunca antes na história deste país. Nas quatro eleições presidenciais vencidas por candidatos do PT foi necessário um 2º turno de votação para Lula e Dilma alcançarem a maioria absoluta de votos válidos. Lula em 2006 e Dilma em 2010 chegaram perto da façanha, mas o antipetismo se mobilizou na reta final do 1º turno e impediu que eles se elegessem de cara. Não creio em bruxas, mas que "cisne negro" existe, não duvide (apud Nassim Taleb).
2) Ponto que vale por dois - Após a publicação do Datafolha, Lula convenceu André Janones a desistir da própria candidatura em seu favor. Presidenciável pelo pequeno Avante, Janones sabia que não tinha chance. Tentou se valorizar e conseguiu: virou ministeriável. Para Lula, é um grande negócio. O ponto percentual a menos na soma dos adversários conta dobrado. Se os eleitores de Janones migrassem para o petista, Lula voltaria no Datafolha de agosto aos 54% de votos válidos que tinha em maio - em tempo de evitar o viés de baixa para se eleger no 1º turno.
- Porém, ai, porém. O capital eleitoral conquistado por Janones foi fruto de sua campanha pelo auxílio emergencial de R$ 600 durante a pandemia. Seu eleitorado é, portanto, provável beneficiário do Auxílio Brasil engordado para R$ 600 por Bolsonaro. Pra quem esses eleitores migrarão, para Lula ou para o presidente?
- O PT tentou, mas não conseguiu implodir a candidatura de Simone Tebet pelo MDB. Se herdasse metade dos dois pontos da emedebista, Lula iria a 55% dos votos válidos.
- A desistência de Luciano Bivar (União Brasil) não conta: a ordem dos traços não altera o produto.
3) A resiliência de Bolsonaro é notícia - Desde maio, a sequência de más notícias para o governo não parou: disparada dos preços da carne, do leite, do gás; assassinato de jornalista estrangeiro na Amazônia; bolsonarista executando petista a tiros em festa de aniversário; ministro evangélico demitido por corrupção; escândalo na distribuição de verbas do orçamento secreto; palanque ao lado de ex e futuros presidiários... E, mesmo assim, a intenção de voto em Bolsonaro não caiu. Ao contrário.
- Desde maio, a intenção de voto espontânea em Bolsonaro foi de 22% para 26%, enquanto a de Lula ficou estacionada em 38%. A taxa espontânea é difícil de cair porque o eleitor está mais convicto de sua escolha, não precisa ver/ouvir a lista de candidatos apresentada pelo entrevistador como na estimulada.
- 90% dos eleitores de Bolsonaro dizem seu nome espontaneamente; essa taxa é 81% para Lula e 38% para Ciro Gomes.
- Pergunta do mês de agosto: Se com maré vazante a intenção de voto em Bolsonaro não caiu, o que acontecerá quando sua popularidade começar a encher com o estelionato eleitoral do auxílio de R$ 600 reais x 3 por causa do crédito consignado?
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.