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Consumo no nível atual é garantia de que não haverá amanhã, diz economista
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O economista Marcelo Medeiros, professor da Universidade Columbia, em Nova York, afirmou ser impossível manter o nível de consumo que a população mundial tem hoje. Durante participação no Análise da Notícia, o especialista em desigualdade alertou que o planeta está entrando em uma crise de sustentabilidade inédita com consequências devastadoras.
Não tem a menor possibilidade de continuar consumindo e produzindo na forma e no nível como a gente vem fazendo. Não tem a menor possibilidade de o mundo sustentar mais uma geração fazendo isso. A gente vai ter alguma dificuldade em estimar o que vai acontecer, mas não é um cenário positivo e não dá para continuar consumindo como se não houvesse amanhã.
Marcelo Medeiros
Incerteza radical. É difícil prever exatamente quais serão as consequências do consumo desenfreado para o planeta e para a humanidade, mas a certeza é de um cenário de incerteza radical. Essa incerteza é diferente de um risco, em que é possível olhar para o que aconteceu ao longo da história e estimar os próximos acontecimentos — justamente porque entraremos em um ambiente no qual não temos parâmetros sobre o que irá acontecer.
Extinção à vista. Em um cenário positivo de projeção para o futuro, a população mundial enfrentará uma crise muito grave e sem precedentes, já no cenário pessimista, o risco é de extinção em massa — que não seria exclusivamente da espécie humana, mas da vida no Planeta Terra.
Mudanças em breve. No curto prazo, já é possível afirmar que o mundo como conhecemos irá mudar. Não há mais tempo para reverter essa situação e voltar a uma situação razoável de equilíbrio. Agora, o que deve ser feito é buscar mecanismos para mitigar e diminuir os problemas que virão. Em uma situação ideal, isso seria controlar as emissões de carbono até 2025 e depois reduzir em mais 40% em um intervalo de 10 a 15 anos. No entanto, o mundo sequer dá sinais de conseguir estabilizar o nível de emissão.
Pequenos sinais. Não haverá uma crise súbita no planeta, os indícios de que o problema é irreversível já estão sendo dados. Pequenos sinais como mudanças climáticas extremas são um sinal disso, mas, ao mesmo tempo, são apenas a ponta do iceberg. Os problemas mais profundos não são visíveis, e, justamente por não serem visíveis, é muito fácil que as pessoas sejam negacionistas e finjam que o problema não existe.
Países desenvolvidos têm culpa no cartório. Um dos problemas de sustentabilidade que o planeta já enfrenta tem relação com o clima, o aquecimento global e a emissão de carbono. Grande parte desse problema é gerada pelos países mais desenvolvidos porque sua energia é gerada com a queima de carbono. No caso do Brasil, especificamente, a energia produzida é razoavelmente limpa.
Mudanças podem impactar o agro. Atualmente a plantação de soja brasileira ocupa grande parte do mercado mundial por ser altamente produtiva. Mas, se houver uma mudança climática razoável, com perda da biodiversidade, e a soja perca 10% de sua produtividade, o cenário pode mudar. Uma queda desse nível, apesar de parecer pequena, fará a soja brasileira deixar de ser competitiva e será mais vantajoso plantar em outros países.
Foco tem que ir além da Amazônia. A situação na Amazônia é preocupante e está perto dos seus limites. A floresta controla o regime de clima de todo o Brasil e, por isso, um impacto no local pode, por exemplo, afetar a cadeia de produção agrícola de todo o país e também provocar instabilidades climáticas em outras regiões. Entretanto, também é de extrema importância também dar atenção para as situações de outros biomas, como o Cerrado, por exemplo.
Elite precisa reduzir o consumo. Hoje a estimativa é que para se manter o consumo atual seria necessário uma Terra e mais 60% do planeta. Por isso, a questão não é que não dá para manter o padrão de consumo americano, sequer podemos ter o padrão de consumo da elite brasileira. Atualmente, a metade mais pobre da população mundial é responsável por menos de 10% do dano de todo o planeta, então o problema está na metade mais rica da população. É necessário um mecanismo de redistribuição em grande escala, e não apenas redistribuição do consumo.
Retirada de subsídios de combustíveis fósseis é necessária. Hoje o mundo gasta 7% do PIB mundial com subsídios para combustíveis fósseis, e esse valor representa mais do que o gasto com a educação. Para as coisas funcionarem minimamente bem seria necessária a retirada desses subsídios, mas isso acarretaria uma série de consequências. A energia se tornaria mais cara e isso causaria a inflação, então chegamos em um ponto em que até ações para controlar o consumo acarretariam outros tipos de problemas.
Crescimento no ritmo chinês é inviável. Temos a ideia de que desenvolvimento significa crescimento, mas é preciso repensar as formas de desenvolvimento, pois isso não é mais uma questão de escolha. Os recursos do mundo são escassos e, por isso, é necessário fazer uma redistribuição. Em relação às estimativas de temperatura, a projeção é que não existe tecnologia capaz de frear os problemas com um crescimento global de 2% ao ano. É necessário frear a velocidade do crescimento global com uma meta ideal de "apenas" 1% ao ano.
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O Análise da Notícia vai ao ar às terças, quartas e quintas, às 19h.
Onde assistir: Ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL.
Veja a íntegra do programa:
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