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Josias de Souza

Bolsonaro cogitou manter secretário Alvim no cargo

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Imagem: Reprodução/Facebook

Colunista do UOL

17/01/2020 15h42

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Na nota em que comunicou a decisão de demitir o secretário de Cultura Roberto Alvim, Jair Bolsonaro classificou de "infeliz" o pronunciamento em que seu auxiliar ecoou palavras de Joseph Goebbels, ex-ministro da Propaganda do regime nazista de Adolf Hitler. A despeito do pedido de desculpas de Alvim, anotou Bolsonaro, o episódio "tornou insustentável a sua permanência." No início da manhã, entretanto, Bolsonaro pensava o oposto. Imaginou que seria possível manter o secretário no cargo. Foi preciso convencê-lo do contrário.

Roberto Alvim ecoa Joseph Goebbels

Submetido aos tremores que o pronunciamento de Alvim provocou na internet, Bolsonaro conversou com o auxiliar na abertura do expediente. Pelo telefone, quis saber por que o secretário citara trechos de um discurso de Goebbels no vídeo que levara à internet para anunciar a criação do Prêmio Nacional das Artes. Foi mera "coincidência retórica", disse Alvim a Bolsonaro, antes de atribuir à "esquerda" a associação do seu vídeo com o nazismo.

Com expressões que sinalizavam a intenção de resistir aos ataques, Bolsonaro disse a Alvim que ficasse tranquilo. Imaginando-se blindado, o secretário passou a pronunciar em público o que dissera na conversa telefônica com o chefe. E o presidente orientou sua assessoria a divulgar a seguinte nota: "O próprio [Roberto Alvim] já se manifestou oficialmente. O Planalto não comentará."

A ilusão de que tudo poderia ser resolvido com uma desculpa esfarrapada de Alvim e o silêncio de Bolsonaro esboroou-se rapidamente. No próprio Planalto, auxiliares do presidente realçaram o absurdo. Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre e Dias Toffoli —presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo— criticaram Alvim. Judeu, Alcolumbre tocou o telefone para Bolsonaro. Pediu o escalpo do secretário. Algo que Maia fizera mais cedo, pelo Twitter.

O gabinete presidencial foi como que bombardeado por recomendações para que Bolsonaro agisse rapidamente. No meio da manhã, o presidente já havia mudado de ideia. Pouco depois das 10h, recebeu no Planalto o deputado Otoni de Paula (PSC-RJ). Disse ao visitante que demitiria Roberto Alvim "por amor a Israel". A conversa foi testemunhada pelo general Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência.

A preocupação com a reação de Israel e dos judeus transpareceu na nota que o presidente divulgou no início da tarde: "Reitero nosso repúdio às ideologias totalitárias e genocidas, bem como qualquer tipo de ilação às mesmas. Manifestamos também nosso total e irrestrito apoio à comunidade judaica, da qual somos amigos e compartilhamos valores em comum."

Afora a aversão unânime ao comportamento de Alvim, pesou também na meia-volta de Bolsonaro uma preocupação de Paulo Guedes. O ministro da Economia representará o governo brasileiro no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, entre os próximos dias 21 e 24. Disseminou-se na equipe econômica um receio: se Alvim fosse mantido no cargo, as entrevistas de Guedes na Suíça girariam em torno de Joseph Goebbels, não dos bons indicadores da economia brasileira.

Depois de cultivar a ilusão de que seria possível manter Alvim no cargo, Bolsonaro evoluiu para a ideia de promover um afastamento a pedido. Nessa fórmula, o secretário colocaria o cargo à disposição. De novo, o presidente teve de ser convencido da inconveniência do procedimento. Finalmente, prevaleceu no Planalto o entendimento de que o caso não terminaria bem senão com uma exoneração clássica.

A ficha de Bolsonaro demorou a cair. Mas a demissão já foi publicada na versão eletrônica do Diário Oficial da União.