Em vez de presidir, Bolsonaro decide liderar oposição
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Nos últimos dias, Jair Bolsonaro apareceu várias vezes aos brasileiros. Quem acompanhou teve dificuldades para compreender o presidente. Ele disse uma coisa e também o seu contrário. Bolsonaro parece decidido a inaugurar uma novidade em matéria de política: a auto-oposição.
O presidente desaconselha manifestações de rua por causa do coronavírus. Em rede nacional de rádio e TV, declara: "Jamais podemos colocar em risco a saúde de nossa gente. O momento é de união, serenidade e bom senso." Depois, atropela recomendações do Ministério da Saúde e vai ao asfalto abraçar apoiadores.
Numa transmissão ao vivo pelas redes sociais, Bolsonaro diz que, juntos, os chefes dos Poderes farão um "Brasil melhor para 210 milhões de pessoas". Depois, associa-se a atos antidemocráticos e se mete numa guerra retórica com os presidentes da Câmara e do Senado, desafiando Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre a se submeterem ao teste das ruas.
Num instante, o presidente se jacta de ter composto um ministério técnico. Noutro momento, dedica-se a desmoralizar seus próprios ministros. Há "histeria" e "superdimensionamento" no trato com o coronavírus, diz Bolsonaro, escarnecendo do trabalho do ministro da Saúde, Henrique Mandetta.
Numa hora, Bolsonaro avaliza acordo com o Congresso em torno do Orçamento impositivo. Noutra ocasião, carboniza seu articulador político. O general Luiz Eduardo Ramos, disse o presidente, perdeu-se por "imaturidade e inocência."
Bolsonaro declarou-se candidato à reeleição dois meses depois de tomar posse. Desde então, dedica-se a desconstruir eventuais rivais. Agora, diz que há políticos que colocam 2022 acima do interesse do Brasil. "É toda hora pancada em mim", queixa-se o presidente. "Vou revidar", ele avisa.
Às voltas com a maior crise do seu governo, Bolsonaro assiste ao derretimento da economia. Deveria presidir o país. Mas ele decidiu liderar a oposição.
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