Bolsonaro disputa com o vírus o comando da crise
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Nelson Teich não foi um bom ministro da Saúde. Mas a maior injustiça que se pode cometer é atribuir ao doutor a responsabilidade pelo desperdício de quase um mês de energias dispersas. Desde a implosão de Henrique Mandetta, o cargo foi assumido por Jair Bolsonaro. Teich passou por Brasília como mera camuflagem para a aversão que o presidente nutre pelo iluminismo.
Bolsonaro não deseja um ministro da Saúde. Ele quer um fantoche, um áulico que ecoe as suas ideias para o setor. O que vem por aí é mais do mesmo, porque Bolsonaro esgrime apenas duas ideias fixas: fim do isolamento social e liberação do uso indiscriminado da cloroquina.
A primeira ideia já foi anulada quando o Supremo autorizou Estados e municípios a ignorar o liberou-geral de Brasília. A segunda, que depende de mudança do protocolo do Ministério da Saúde sobre o uso do medicamento, não deve resistir a um questionamento na Justiça.
Um ministro da Saúde que trabalhe com um olho no crescimento exponencial do nível de contágio do vírus e outro em Bolsonaro é apenas uma fórmula para o fracasso. Como o Brasil ainda não atingiu o pico da evolução da doença e sofre com os reflexos econômicos da crise, a coisa se agrava sem que o país conheça uma coordenação nacional da crise.
Se Bolsonaro abdicasse do posto de ministro da Saúde para assumir a Presidência da República, cargo para o qual foi eleito por 57,7 milhões de brasileiros, algo de bom poderia acontecer. Sobretudo se o presidente se dispusesse a fazer uma autocrítica, abrindo um canal de diálogo sincero com governadores e prefeitos. Como o único tipo de autocritica que Bolsonaro conhece é a autocritica a favor, o que vem por aí é a continuidade de uma corrida insana. Bolsonaro continuará disputando com o vírus o comando da crise.
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