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Josias de Souza

Escassez de bom senso dá estabilidade a Weintraub

Colunista do UOL

19/05/2020 19h51

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Num instante em que ministros tidos como técnicos despencam da Esplanada como frutas apodrecidas, chama a atenção a estabilidade no emprego que Jair Bolsonaro oferece aos seus auxiliares do time ideológico. Veja-se o caso de Abraham Weintraub. Todo mundo acha que possui bom senso. Mas infelizmente essa não é uma mercadoria tão bem distribuída. Weintraub desenvolveu um método sui generis para identificar as pessoas sensatas. O ministro da Educação não enxerga bom senso em ninguém, exceto nas pessoas que concordam com ele. Como são cada vez mais raros os personagens que pensam como Weintraub, a pasta da Educação virou um centro de polêmicas.

Até uma decisão trivial como a definição da data de realização do Enem vira uma enorme controvérsia. Em tempos de pandemia, parece óbvio que o calendário se tornou móvel. Inicialmente marcado para novembro, o Enem está passível de adiamento. Há um complicador adicional, que envolve a dificuldade que os alunos pobres têm de se preparar adequadamente para a prova submetidos a uma quarentena sem recursos básicos como internet e livros. Mas o ministro deu ombros. Insinuou que não lhe cabe cuidar da desigualdade social.

Criada a polêmica, o Senado entrou em campo. A Defensoria Pública da União recorreu à Justiça. E o ministro se arrisca a ganhar, mais uma vez, a aparência de derrotado. Simultaneamente, Weintraub continua frequentando as manchetes de ponta-cabeça —ora como autor de ataques a ministros do Supremo numa reunião ministerial conturbada, ora como candidato a um processo por improbidade administrativa.

Weintraub passou a namorar a improbidade ao usar dois advogados contratados como servidores do MEC para atuar em processos privados que move contra dois meios de comunicação, um jornalista e um escritor. O ministro alega que o fato de terem sido contratados no regime de "dedicação integral" não significa que os advogados estejam presos ao ministério por um compromisso de exclusividade. Ele diz que pagou do próprio bolso os custos dos processos judiciais. A sorte de Weintraub é que Jair Bolsonaro, como ele, não dispõe de bom senso para perceber a falta que faz o bom senso.