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Josias de Souza

Bolsonaro ensina o certo caprichando no errado

Colunista do UOL

08/07/2020 03h33

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Bolsonaro não pode ser entendido à luz dos modelos clássicos. É inútil analisar o comportamento do presidente na pandemia com a lógica do bom senso. Bolsonaro ensina o valor das regras sanitárias violando-as.

O presidente é o Poder se autoimolando para revelar ao povo o que não deve ser feito. O desejo de virar antiexemplo fez brotar em Bolsonaro um amor platônico. Ele correu atrás do vírus, ofereceu-se ao vírus, aspirou o vírus até ser correspondido.

É enorme a indignação dos infectologistas em relação ao desprezo que Bolsonaro tem pelas recomendações médicas. Os especialistas não percebem que só um suicida didático cometeria erros tão toscos.

A ciência recomenda basicamente três coisas: isolamento, mãos limpas e máscara. Bolsonaro aglomera-se. Ele limpa com o dorso da mão a boca suja com molho de cachorro quente. Veta o uso de máscaras no comércio, nas igrejas, nas prisões...

Bolsonaro orienta a sociedade por meio da desorientação. Quando não estava infectado, escondeu o exame para estimular a suspeita de que estava doente. Contaminado, proclama: "Eu avisei que o vírus é como chuva. Vai molhar você!"

É como se Bolsonaro quisesse provar o que é certo caprichando nos erros. Com sua antiapoteose, ambiciona virar um fator de progresso. Consolidou-se, finalmente, como exemplo sanitário. Ensinou que, para driclar o vírus, basta fazer o contrário.

É como se Bolsonaro gritasse, a plenos pulmões: "Deixem-me só. Cuidem de suas vidas!"