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Josias de Souza

Tucanato precisa higienizar o seu salão de festas

Silvia Zamboni/Folha Imagem
Imagem: Silvia Zamboni/Folha Imagem

Colunista do UOL

23/07/2020 18h41

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Num intervalo de seis anos, o PSDB desceu da antessala do poder para o inferno. Na sucessão presidencial de 2014, Aécio Neves teve uma derrota com fragrância de vitória. Obteve um segundo lugar com notáveis 51 milhões de votos. Parecia fadado a se eleger presidente na eleição seguinte, em 2018. Mas virou um colecionador de processos criminais. Depois disso, vieram o derretimento moral de José Serra e a corrosão ética de Geraldo Alckmin.

Aquele PSDB que fazia pose de diferente morreu. A formalização da denúncia contra Alckmin, paradigma de honestidade do tucanato, tem o peso de uma lápide. Antes mesmo da emissão de uma sentença condenatória, foi concluída a cerimônia fúnebre daquele partido fundado em 1988 por Franco Montoro, Mario Covas e Fernando Henrique Cardoso a partir de uma dissidência do PMDB. Esse PSDB que perambula pela conjuntura como se nada tivesse sido descoberto não se distingue do lixão em que se transformou o sistema partidário brasileiro.

Nada mais simbólico do que o afastamento de Alckmin da coordenação do programa de governo da campanha à reeleição de Bruno Covas para prefeitura de São Paulo. Alckmin ganhou visibilidade na política quando foi eleito vice-governador na chapa de Mario Covas, em 1994. Ganhou luz própria, tornando-se o político que por mais tempo governou São Paulo.

Alckmin disputou a Presidência pela primeira vez em 2006. Perdeu no segundo turno para um Lula pré-Lava Jato. Voltou às urnas presidenciais em 2018, quando as acusações agora convertidas em denúncia chegaram ao noticiário. Amargou uma humilhante quarta colocação. Agora, convertido pela Lava Jato em aliado tóxico, Alckmin é retirado da vitrine por Bruno Covas, neto do seu mentor.

Com seus três ex-presidenciáveis no caldeirão, o PSDB —ou o que restou do partido— se equipa para comparecer à sucessão de 2022 representado pelo atual governador de São Paulo, João Doria. É difícil levar a sério a preparação de uma festa que começa sem uma faxina do salão de festas. Seria indispensável limpar a sujeira que vaza pelas bordas do tapete, desentortar o abajur e retirar as pessoas indesejáveis que se escondem atrás do sofá. Sem isso, o eleitor terá dificuldade para distinguir os tucanos limpinhos dos que se lambuzaram na festa anterior.