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Josias de Souza

Salles é peão, Bolsonaro gere boiada ambiental

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Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

28/09/2020 18h52

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Não é que o governo tem dificuldades para desfazer a crise que ele mesmo criou no setor do meio ambiente. A questão é que Jair Bolsonaro fez nessa área uma opção preferencial pela crise. A maior injustiça que se poderia cometer seria responsabilizar Ricardo Salles pelo desmantelo. O ministro é mero peão, um tocador de rebanho. Quem gerencia a boiada, definindo os bois que devem pular a cerca, é Bolsonaro.

Em meio às cinzas do Pantanal e da Amazônia, o presidente achou que seria uma boa ideia revogar duas portarias que protegiam uma área estimada em cerca de 1,6 milhão de hectares de restingas e manguezais. Eram áreas de preservação permanente —bois que interessam, por exemplo, a especuladores imobiliários e redes hoteleiras.

Além de atiçar uma polêmica ambiental que deveria resfriar, Bolsonaro tornou-se candidato a uma nova derrota no Judiciário. A movimentação reforça a vocação antiambiental da gestão Bolsonaro. Meio Ambiente virou uma questão econômica. O risco de perda de investimentos estrangeiros preocupa até o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Mas Bolsonaro dá de ombros para os riscos.

Desde o início do governo, há um ano e nove meses, Bolsonaro assegura que não há problema ambiental no Brasil. Tudo não passa de um complô do Inpe com ONGs, mancomunadas com a imprensa impatriótica e com os governos da Noruega e da Alemanha, que escondiam segundas intenções atrás de doações bilionárias. Sem contar os chefes de estado estrangeiros que tramam contra a soberania nacional. Não há o menor risco de um enredo assim terminar bem.

Suponha que a mesma lógica negacionista de Bolsonaro fosse aplicada à área econômica. O presidente passaria a questionar os dados oficiais sobre o déficit público, colocaria em dúvida a existência do rombo previdenciário que justificou a reforma da Previdência, ordenaria o afrouxamento dos mecanismos de controle dos gastos, e promoveria um estouro de boiada no Tesouro Nacional. Mal comparando é mais ou menos isso o que acontece no Meio Ambiente.