Brigas e inépcia elevam pressão para que Bolsonaro faça reforma ministerial
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Na definição de Jair Bolsonaro, o atual governo é composto pelos "melhores ministros da história". De fato, há na Esplanada ministros empenhados em realizar o pior o melhor que podem. Prestes a completar dois anos, o governo tornou-se disfuncional.
Ministérios estratégicos como o da Educação, da Cidadania e da Saúde viraram latifúndios improdutivos que o ministro da Economia, Paulo Guedes, invade.
Guedes tentou transferir um pedaço do Fundeb, fundo educacional, para o Renda Cidadã —programa que deveria ser tocado pela pasta da Cidadania. Os ministros Milton Ribeiro (Educação) e Onyx Lorenzoni (Cidadania) não deram um pio.
O Congresso blindou o Fundeb. E o programa de renda mínima se arrasta pelo noticiário como uma ideia à procura de uma fonte de financiamento que fique em pé sem ferir as suscetibilidades de Bolsonaro.
Editado e revogado em menos de 24 horas, o decreto que encostava a iniciativa privada no SUS foi assinado por Guedes e Bolsonaro. Nem sinal das digitais da Saúde.
Às voltas com a Covid, o general Eduardo Pazuello, suposto ministro da Saúde, já havia admitido que não manda, apenas obedece. É como se o Senhor Nada despachasse nos gabinetes ministeriais da Educação, da Cidadania e da Saúde.
Na prática, Ribeiro, Lorenzoni e Pazuello vão se tornando invisíveis. Tente-se enxergá-los em seus assentos. Inútil. O olhar atravessa o Nada e vai bater no couro do espaldar da poltrona.
Com Paulo Guedes sucede fenômeno diferente. O desejo da onipresença deu enorme visibilidade ao nariz do ministro da Economia. Ele brilha, espirra, coça e se mete onde não é chamado.
Ouve-se a voz de Guedes em toda parte. Mas ela soa cada vez mais débil na trincheira econômica. O ministro prometeu muito. Entregou pouco. E acha que não deve nada a ninguém. Muito menos explicações.
O déficit primário seria zerado no primeiro ano de governo. Nada. O crescimento econômico de 2019 seria superior a 2%. Sem pandemia, produziu-se um pibinho de 1,1%. Guedes daria fim aos subsídios. Nem sinal. Passaria no facão as mamatas patronais do Sistema S? Lhufas.
Guedes disse que coletaria R$ 1 trilhão com a venda de estatais? Por ora, a arrecadação soma zero. O ministro acenava com a desvinculação dos gastos obrigatórios do orçamento. O gesso orçamentário permanece intacto.
A ineficácia costuma ser órfã. Mas Guedes enxerga no seu fiasco o DNA do Congresso. Acordos políticos travam a agenda de privatizações, diz o czar da economia. As reformas paralisadas no Legislativo estão condicionadas ao "timing da política", ele tergiversa.
Para chamar o centrão de "aliado", Bolsonaro transformou seus compromissos de campanha naquilo que o general Otávio Rêgo Barros, ex-porta-voz do Planalto, chamou de "nota de sete reais."
Guedes imaginou que a perversão renderia votos no Congresso em quantidade suficientes para retirar do papel privatizações e reformas. Até aqui, os líderes do centrão exibem outras prioridades. Entre elas esvaziar a pasta de Guedes.
Bolsonaro pendurou três ministérios e meio no organograma do seu Posto Ipiranga: Economia, Planejamento, Indústria e Comércio, além de um pedaço do antigo Ministério do Trabalho.
Parte do centrão quer que Bolsonaro reitire do ministério de Guedes a costela da Indústria e Comércio, servindo-a a um deputado do grupo. Será difícil para o presidente escapar de uma reforma ministerial.
Sob Bolsonaro, a Esplanada tornou-se um ninho de cobras. Num dia, o ministro das Queimadas Ricardo Salles chama de "Maria Fofoca" o general da coordenação política Luiz Eduardo Ramos. Noutro, Paulo Guedes repete que o colega Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, é um "ministro fura-teto."
Em governos convencionais, o presidente dissolve conflitos. Bolsonaro joga na balbúrdia. Quando os ministros trocam ofensas desmoralizantes e nada acontece, desmoraliza-se o governo.
As víboras do centrão enxergam a desmoralização do serpentário como uma oportunidade a ser aproveitada. Ambicionam, além da recriação da pasta da Indústria e Comércio, a acomodação de deputados na coordenação política do Planalto e em ministérios como Saúde e Cidadania. O lema é: chega de intermediários.
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