Encalhe de testes expõe um apagão de logística
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Submetido a um descalabro —o risco de perda de validade de 6,86 milhões de testes para o diagnóstico do coronavírus— Jair Bolsonaro culpou governadores e prefeitos: "Todo o material foi enviado para Estados e municípios. Se algum Estado ou município não utilizou deve apresentar seus motivos", disse o presidente nas redes sociais. Bolsonaro tenta negar o que o próprio Ministério da Saúde já admitiu. Os testes não foram enviados à rede hospitalar pública.
Em plena fase de recrudescimento da pandemia, estão guardados num armazém do governo federal no Aeroporto de Guarulhos, São Paulo, quase 7 milhões de testes do tipo PCR, o mais eficaz. É mais do que os 5 milhões de testes já aplicados no SUS desde on início da pandemia. O prazo de validade dos testes encalhados expira entre dezembro e janeiro. O material custou R$ 290 milhões. A chance de virar lixo é real.
O governo está diante de algo muito parecido com um apagão de logística. Ironicamente, a logística é justamente a especialidade do ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello. O desperdício de testes veio à luz numa notícia do Estadão. Chega num instante em que o país se inquieta com a falta de transparência do governo na elaboração de um plano de distribuição das vacinas que estão por vir.
Em vez de tranquilizar a população, Bolsonaro oferece mais razões para preocupação. O presidente ainda não notou. Mas cada vez que declara que determinado problema não é seu, sua atitude se transforma no próprio problema. Como sempre, também no caso dos testes, os culpados são os outros: governadores e prefeitos. Bolsonaro só conhece um tipo de autocrítica: a autocrítica a favor. Comporta-se como se estivesse sempre liberado de todo o exame do mal —principalmente o mais difícil, que é o autoexame.
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