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Josias de Souza

Certezas de Doria não ornam com adiamentos

Ettore Chiereguini/Estadão Conteúdo
Imagem: Ettore Chiereguini/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

14/12/2020 16h18

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Inicialmente, o governo de São Paulo trabalhava com a hipótese de divulgar na primeira semana de dezembro os resultados da fase três dos estudos sobre a eficácia da CoronaVac. Em seguida, o anúncio foi protelado para 15 de dezembro. Nesta segunda-feira (14), empurrou-se a providência para a antevéspera do Natal. O pedido de registro da vacina só será encaminhado à Anvisa no dia 23 de dezembro, informou o governador paulista João Doria. Esse vaivém inocula no calendário de vacinação de São Paulo o vírus do ceticismo.

A despeito do adiamento, Doria disse esperar que a Anvisa aprove o registro da CoronaVac até o final deste ano. Heimmm?!? O governador manteve a promessa de iniciar em 25 de janeiro a vacinação dos paulistas. Hummm!!!

O segundo adiamento foi apresentado como decisão "estratégica", pois o laboratório Sinovac, parceiro chinês do Butantan, pediria registro simultâneo da vacina na National Medical Products Administration, a agência chinesa de regulação de medicamentos. Que certificaria a CoronaVac em três dias, pressionando a Anvisa a apressar o passo.

Tudo isso ocorreria com o Natal e o Réveillon de permeio. Será?!?!? A Anvisa apressou-se em avisar que nenhuma vacina será liberada, nem mesmo para uso emergencial, em prazo inferior a dez dias.

Pesquisa divulgada pelo Datafolha no final de semana revelou que, entre agosto e dezembro, caiu de 89% para 73% o percentual de brasileiros que desejam se vacinar contra a Covid-19. A sondagem também mostrou que é grande, muito grande, enorme a aversão à vacina de origem chinesa. Nada menos que metade dos entrevistados responderam que não tomariam um imunizante vindo de Pequim. Os brasileiros preferem vacinas de origem americana (74%), britânica (70%) ou mesmo russa (60%).

Num ambiente assim, infectado pelo vírus da desconfiança, as autoridades de São Paulo já deveriam ter notado que a crença sobre vacinas divide as pessoas. O que as une é a dúvida. No momento, o brasileiro é submetido a duas esquisitices. Na seara federal, há um plano que enumera vacinas hipotéticas como se estivessem garantidas, sem definir a data do início da vacinação. Em São Paulo há plano que diz coisas definitivas sobre o início iminente da imunização sem definir muito bem as coisas sobre a certificação de um imunizante que já começou a ser produzido no Butantan.

Às voltas com um dos momentos mais difíceis da humanidade, tendo que ralar uma segunda onda de contágio do vírus, resta ao brasileiro reunir todas as suas forças, levantar a cabeça, e gritar a plenos pulmões: Socoooooooorrrrrro!