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Josias de Souza

Código de barras marca a sucessão na Câmara

Código de barras - Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Código de barras Imagem: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Colunista do UOL

27/12/2020 05h43

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Um espírito de bazar baixou na disputa pela presidência da Câmara. Ao longo de 2020, Jair Bolsonaro já entregou ou se comprometeu a entregar a partidos do centrão o controle de órgãos públicos que, juntos, possuem orçamentos de cerca de R$ 80 bilhões anuais. Para colocar o réu Arthur Lira (PP-AL) no comando da Câmara, o presidente solidifica seu relacionamento com o aglomerado partidário de má fama, acenando com novos cargos, inclusive ministeriais.

Nos subterrâneos, tenta-se seduzir até os parlamentares de partidos que integram o bloco de apoiadores de Baleia Rossi (MDB-SP), o candidato endossado por Rodrigo Maia, atual presidente da Câmara. Operadores políticos de Bolsonaro caçoam do esforço realizado por Maia para dar um conteúdo oposicionista ao MDB.

A votação será secreta. E o Planalto se vangloria de dispor de vários votos no partido de Baleia Rossi. De resto, Bolsonaro acena com o apoio a um nome do MDB na disputa pela presidência do Senado.

O presidente amarra o futuro do seu governo nos humores do centrão sob o argumento de que precisa preservar a governabilidade. O argumento seria aceitável se a articulação fosse feita às claras, num processo em que os negociadores apresentassem à sociedade as políticas públicas envolvidas na transação.

Por ora, só há dois interesses em jogo. A Bolsonaro interessa a sobrevivência política. Ao centrão, o acesso aos cofres públicos. O clientelismo e o fisiologismo são fenômenos tradicionais no Brasil. Mas Bolsonaro havia estimulado no eleitor de 2018 a ilusão de que faria diferente. Quem acreditou piamente, não pode piar.

Churchill ensinou que a democracia é o pior regime possível com exceção de todos os outros. No Congresso, os políticos continuam engajados num esforço para implementar as alternativas piores. Congressistas percorrem os bastidores da sucessão na Câmara com códigos de barra na lapela. Fazem isso porque há no Planalto quem se disponha a pagar.

Depois de seis anos de Lava Jato, o Brasil ainda sofre com a síndrome do quase. A faxina quase foi alcançada quando as ruas escorraçaram Fernando Collor do poder. A higienização quase foi obtida quando cassaram-se os mandatos de meia dúzia de anões do Orçamento.

A purificação quase chegou quando o Supremo mandou para a Papuda a bancada do mensalão. Sobrevieram o impeachment de Dilma Rousseff, a prisão de Lula, o pesadelo criminal de Michel Temer, a vitória de uma chapa militar em 2018... E prossegue a maldição do quase.