Inseguro, Bolsonaro receia que o vice vire versa
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Desde a estreia do governo, em janeiro de 2019, Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão percorrem a conjuntura vinculados a conflitos. Nenhuma política pública animou a animosidade. Guerreou-se pela guerra.
No penúltimo arranca-rabo, o capitão desmentiu o general, que falara sobre reforma ministerial. Na previsão de Mourão, entre os escalpos que desceriam à bandeja estaria o do antichanceler Ernesto Araújo.
"O que nós menos precisamos é de palpiteiro no tocante à formação do meu ministério", ralhou Bolsonaro. "Deixo bem claro: todos os 23 ministros eu que escolho e mais ninguém. Ponto final." Caprichou no desprezo: "Se alguém quiser escolher ministro, se candidate em 22. E boa sorte em 23."
Governo sem desavenças não existe. Mas Bolsonaro exagera. Implica com Mourão porque é um ser humano inseguro. Aprendeu com Michel Temer que os vices, como os ciprestes, costumam crescer à beira dos túmulos. Grita para mostrar que, a despeito das seis dezenas de pedidos de impeachment protocolados na Câmara, está vivo.
São duas as afinidades mais notórias do capitão com o general. Ambos elogiam a ditadura militar. E chamam de herói o torturador Brilhante Ustra. No mais, o relacionamento de Bolsonaro com Mourão é 100% feito de divergência.
Mourão oferece diariamente aos gravadores e microfones dos repórteres um punhado de contrapontos sóbrios aos despautérios de Bolsonaro.
Em condições normais, vices são como ciprestes: só crescem à beira dos túmulos. Mas os vices brasileiros costumam desabrochar mesmo sem a emissão do atestado de óbito do titular. Que o digam Itamar Franco e Michel Temer.
Às voltas com a pandemia, o Brasil precisa de vacinas, empregos, reformas e decência. Nada disso será obtido com confusão. Pela lógica, Bolsonaro deveria buscar aliados e evitar brigas. Mas ele não conhece outra lógica senão a lógica do confronto. No caso de Mourão há uma ignição adicional. Bolsonaro receia que seu vice vire versa.
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