Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Congresso pendura auxílio no cheque especial
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Para desassossego do ministro Paulo Guedes, da Economia, o Congresso não parece disposto a condicionar a volta do auxílio emergencial a medidas de aperto fiscal. Rodrigo Pacheco e Arthur Lira, os novos chefes do Legislativo, dizem compreender a necessidade de salvar as contas nacionais da ruína. Mas querem salvar primeiro os famintos.
Se pudesse dar entrevistas, o estômago do cidadão miserável, ferida exposta que ninguém vê, diria que é dura a vida de víscera. Revelaria que morre de inveja do coração que, quando sofre, é de amor. Mas não pode se dar ao luxo de matar o tempo com sentimentos abstratos. O estômago precisa se concentrar no que é concreto: o feijão, o arroz, a carne...
Guedes se diz preocupado em socorrer os "invisíveis." O diabo é que os parlamentares tropeçam nos invisíveis de raro em raro. E já notaram que os famintos, exaustos da preocupação de Guedes e do resto do governo, querem dinheiro.
Os congressistas decidiram financiar com o cheque especial o novo socorro emergencial. O valor e a abrangência ainda são incertos. Mas o governo acena com três parcelas de R$ 200, a serem repassadas para cerca de 30 milhões de necessitados.
Não há dúvida de que a fome tem pressa. Antes mesmo da pandemia, o mundo do estômago cabia no intervalo entre uma refeição e outra. O relógio de quem não tem o que comer só tem tempo para certas horas: a hora do café, a hora do almoço, a hora do jantar...
O problema é que o Legislativo sabia que o auxílio emergencial acabaria em dezembro. E desperdiçou todas as oportunidades que teve para providenciar uma fonte de financiamento para a prorrogação. Agora, trama espetar a conta no déficit público. Gasta um dinheiro público inexistente como se fosse dinheiro grátis.
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