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Leonardo Sakamoto

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Pacheco discorda de Guedes e diz ser contra condicionar auxílio a reformas

Rodrigo Pacheco e Paulo Guedes - Marcos Brandão/Senado Federal
Rodrigo Pacheco e Paulo Guedes Imagem: Marcos Brandão/Senado Federal

Colunista do UOL

08/02/2021 19h45

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A urgência da volta do auxílio emergencial é um dos primeiros pontos de divergência pública entre o governo Bolsonaro e o recém-empossado presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

Ele afirmou, nesta segunda (8), que a renovação do benefício não pode estar condicionada à aprovação de reformas ou de medidas fiscais. Isso bate de frente com a chantagem colocada na mesa pelo governo, que quer liberar recursos para ajudar trabalhadores informais na segunda onda da pandemia se o Congresso Nacional disser sim a propostas de ajuste fiscal.

O próprio ministro da Economia, Paulo Guedes foi um dos que condicionaram o pagamento de novas parcelas do auxílio emergencial à criação de "um novo marco fiscal, robusto o suficiente para enfrentar eventuais desequilíbrios" na última quinta (4).

Quanto mais tempo se perde em renovar a ajuda ao pessoal que está sem renda, mais eles são empurrados para a rua no desespero de encontrar algum serviço. O que contribui para facilitar a contaminação, sobrecarregar hospitais e aumentar a mortalidade pela covid-19.

Ao mesmo tempo, quanto mais o governo enrola para liberar parcelas de auxílio emergencial, mais a economia sofre, lembrando que o benefício ajudou a reduzir o tamanho do tombo do PIB e a montanha de desempregados.

Indo de encontro à visão do ministro, o presidente do Senado disse à GloboNews que "não podemos condicionar a realização disso, a entrada em vigor de medidas desse tipo [auxílio], porque a emergência e a urgência relativamente a essa assistência social não podem esperar". Defendeu "destravar essa pauta [econômica] e concomitantemente o governo nos dê os instrumentos aptos para já atender às pessoas".

Conciliando questão social com economia, mas priorizando o que deve ser priorizado, Pacheco mostra sinais que, como afirmam alguns de seus colegas, sua gestão não será de alinhamento automático com o governo.

Também nesta segunda, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tratou do auxílio, mas sem questionar o posicionamento do governo.

"Não tenho dúvidas de que o governo federal vai estar sensível a isso. Só temos duas saídas: ou votamos rapidamente o Orçamento ou o governo federal vai procurar alguma forma de o Congresso excepcionalizar temporariamente até que nós tenhamos orçamento para votarmos um projeto novo de inclusão mais acessível", afirmou.

Lira, como sócio do Palácio do Planalto, não iria soltar a real. Mas quem está acompanhando de perto a crise sanitária não têm dúvidas que o governo federal é insensível a tudo isso.

Falta ao Ministério da Economia a percepção da ideia de emergencial, por mais que o país tenha registrado 18 dias seguidos de média móvel de mais de mil óbitos. E sobra torcida para que a segunda onda vá embora antes que Guedes seja obrigado a tirar o escorpião do bolso.

Outra prova de insensibilidade é o valor do auxílio. Entre os vários balões de ensaio lançados pelo governo sobre o benefício, um dos pontos mais insistentes é o valor mensal a ser pago, de R$ 200. Isso representa 32% do necessário para adquirir a cesta básica em São Paulo, de acordo com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

"Acho que vai ter prorrogação", afirmou o presidente da República em entrevista ao jornalista José Luiz Datena, nesta segunda.

Para o mercado, ele vende a imagem de rendido diante da pressão de irresponsáveis.

No íntimo, torce para que a posição de Pacheco se sobreponha à de Guedes e o auxílio seja renovado o quanto antes. Ou seja, novamente torce contra seu ministro, pensando em sua reeleição.

Não em solidariedade aos trabalhadores, afinal, como ele mesmo gosta de repetir, todo mundo morre um dia. Mas para estancar a queda de sua popularidade, que veio junto com o fim do auxílio.

Há deputados e senadores que reclamam que a pauta da renovação do auxílio, que só será aprovada por pressão do Congresso, terá o efeito colateral de ajudar Bolsonaro a se recuperar em popularidade. Verdade. Mas isso pouco importa diante da tragédia humanitária que estamos vivendo. Essa é, inclusive, a diferença de pessoas de democratas, à direita e à esquerda, e o presidente.