Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Bolsonaro muda Saúde sem mudar a si mesmo
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A boa notícia é que, ao trocar o general Eduardo Pazuello pelo cardiologista Marcelo Queiroga, Jair Bolsonaro sinalizou a intenção de mudar a gestão da crise sanitária. A má notícia é que Queiroga aceitou ser ministro da Saúde depois que sua colega Ludhmila Hajjar rejeitou o convite para assumir o mesmo cargo. Ela revelou que o desejo de mudança do presidente não chega ao ponto de conceder autonomia científica ao substituto de Pazuello.
Bolsonaro quer acomodar na poltrona do general um médico que coloque sua capacidade técnica a serviço de uma administração da pandemia baseada na máxima pazuelística segundo a qual "um manda e o outro obedece." Significa dizer que Queiroga topou conviver com o fato de que Bolsonaro não abre mão de acumular o cargo de presidente da República com as atribuições de ministro da Saúde. Algo que sua colega considerou inadequado.
Nas palavras de Ludhmila, faltou alinhamento técnico com Bolsonaro. Dois pontos de divergência foram especialmente marcantes. A doutora considera perda de tempo a defesa do tratamento precoce da covid com base em medicamentos ineficazes como a cloroquina. Ela defende o isolamento social. Bolsonaro não abre mão da cloroquina e se opõe ao isolamento.
Ao confirmar a escolha de Queiroga, Bolsonaro declarou: "Tem tudo para fazer um bom trabalho, dando prosseguimento em tudo o que Pazuello fez até hoje." O que se depreende dos movimentos e das palavras do presidente é que ele decidiu mudar o ministro da Saúde não porque viu a luz da ciência, mas porque sentiu o calor da repercussão política do crescimento exponencial do número de mortos por covid.
Desde a semana passada, Bolsonaro e seus filhos proclamam: "Nossa arma é a vacina". Beleza. Falta informar quando chegará o resto da munição. O negacionismo do presidente, como se sabe, levou o governo a entrar tardiamente na corrida pelas vacinas.
A doutora Ludhmila prevê que, se não houver uma mudança na estratégia para fazer a travessia até a conclusão da vacinação em massa dos brasileiros, o número de mortos pode chegar a 500 mil, 600 mil pessoas.
O capitão expurgou dois médicos da pasta da Saúde —Henrique Mandetta e Nelson Teich— porque ambos se recusaram a fazer o que ele queria. Agora, arranca da pasta um general que cumpriu todas as suas ordens. No seu ímpeto mudancista, Bolsonaro revela-se capaz de tudo, exceto de mudar a si mesmo.
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