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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Guedes bate na China e enaltece alemães-turcos como se fossem dos EUA

Ueslei Marcelino/Reuters
Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Colunista do UOL

28/04/2021 05h18

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O cérebro de Paulo Guedes começa a funcionar na hora em que ele acorda e não para até o instante em que ele pensa na China. Com os chineses na cabeça, a língua do ministro da Economia perde o contato com seus neurônios. Foi num desses momentos que o doutor, reunido no Conselho de Saúde Suplementar com os colegas Marcelo Queiroga (Saúde) e Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil), teve uma pane mental.

"O chinês que inventou o vírus", disse Paulo Guedes, sem saber que estava sendo filmado e levado ao ar pela internet. "E a vacina dele é menos efetiva do que a americana. O americano tem 100 anos de investimento em pesquisa. Então, os caras falam: 'Qual é o vírus? É esse? Está bom, decodifica'. Está aqui a vacina da Pfizer. É melhor do que as outras."

A fala de Guedes não faz nexo. Supondo-se que desejasse enaltecer a eficiência da pesquisa científica dos Estados Unidos, escolheu o exemplo errado. A vacina da Pfizer não é uma realização da logomarca americana. Foi desenvolvida pelo laboratório BioNTech, que pertence a um casal de alemães de origem turca.

Repetindo: Desejando afagar os EUA, Guedes enalteceu um laboratório pertencente a alemães-turcos. E deu uma joelhada na China. O ministro revelou-se, de resto, um infectologista de quinta categoria, sem comprovação científica. A tese segunda a qual o vírus seria uma fabricação dos chineses para infectar o mundo não fica em pé.

A Organização Mundial da Saúde averiguou a suspeita. Concluiu que o mais provável é que o coronavírus tenha sido transmitido de um morcego para outro animal. Esse animal, ainda não identificado, teria contaminado o ser humano.

De resto, numa conjuntura em que faltam imunizantes e sobra cloroquina, Guedes já deve ter notado que a melhor vacina é aquela que chega até o braço. A da Pfizer ainda demora a chegar. Bolsonaro retardou a compra. Receava que os vacinados virassem jacaré.

O próprio Guedes tomou duas doses da chinesa Coronavac, distribuída no Brasil pelo Instituto Butantan, vinculado ao governo tucano de João Doria. "Nós somos muito gratos, somos muito gratos à China por ter nos enviado a vacina", diria Guedes horas depois.

O grande erro da humanidade é a conversa fiada não doer. O azar de Paulo Guedes é que os gênios da Pfizer ainda não inventaram uma vacina contra a tolice.