Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Na urucubaca do meio ambiente, Tinhoso estabeleceu moradia nos detalhes
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O Tinhoso fixou moradia nos detalhes da urucubaca que levou os rapazes da Polícia Federal aos endereços do ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente. Apura-se na operação a prática dos crimes de corrupção, advocacia administrativa, prevaricação e facilitação do contrabando de madeira abatida ilegalmente para os Estados Unidos. São quatro os detalhes em que o rabo e os chifres de Asmodeu estão presentes.
1) Gaveta furada: Em condições normais, o pedido da Polícia Federal para varejar escritórios e residências de Ricardo Salles passaria pelo crivo do procurador-geral da República Augusto Aras. Entretanto, o doutor arquivara uma primeira representação sobre o caso em outubro de 2020.
Acionado pela PF, o ministro Alexandre de Moraes, relator da encrenca no Supremo, determinou que Aras fosse avisado apenas depois da realização das batidas policiais. Temia-se por um segundo arquivamento prematuro. Pior: receava-se que a operação pudesse vazar. Aras é tão pouco militante na arte de procurar que começa a ser desligado da tomada por quem ainda procura.
2) Porteira fechada: O despacho de Alexandre Moraes tem 63 folhas. A certa altura, o magistrado reproduziu a declaração de Ricardo Salles na fatídica reunião ministerial de abril de 2020, aquela em que o titular do Meio Ambiente sugeriu que o governo aproveitasse o coronavírus para "passar a boiada" (reveja a declaração no vídeo abaixo). Moraes enxergou traços do espírito boiadeiro do ministro nos negócios trançados com madeireiros às margens da lei. Decidiu fechar a porteira.
3) Made in USA: A operação que fisgou Salles e mais dez servidores do seu ministério teve origem nos Estados Unidos. Em janeiro de 2020, um carregamento de madeira procedente do Pará foi retido no porto de Savannah, na Georgia. Faltava autorização do Ibama para a exportação da madeira. Ao farejar o cheiro de queimado, autoridades americanas alertaram o Brasil.
A invasão do curral de Salles deixa sem nexo as palavras jogadas ao vento por Bolsonaro há um mês na Cúpula do Clima, organizada pelo presidente americano Joe Biden. Nesse encontro, o capitão assumira o compromisso retórico de combater o desmatamento. Passou o pires: o Brasil espera contar com "todo apoio possível". Resta agora saber quem se animará a investir no meio ambiente de um país em que o ministro do setor estraga o ambiente inteiro.
4) Cânticos de alegria: Ricardo Salles descobre da pior maneira que não convém aos que possuem calos entrar em apertos. No mês passado, o ministro erguera o seu tacape contra o delegado federal Alexandre Saraiva. Chefe da PF no Amazonas, o doutor Saraiva perdeu o cargo depois de acusar Salles de se mancomunar com madeireiros pilhados na maior apreensão de madeira ilegal de todos os tempos.
A ficha de Salles demorou a cair. Mas a essa altura o personagem já deve ter notado que se meteu numa enrascada ao passar a rasteira no delegado. Corporações policiais não costumam deixar barato esse tipo de afronta. O delegado Saraiva, a propósito, pendurou no Twitter um Salmo (96:12): "Regozijem-se os campos e tudo o que neles há! Cantem de alegria todas as árvores da floresta."
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