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Josias de Souza

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

A caminho do fim, a CPI flerta com a frustração do engavetamento

Colunista do UOL

19/08/2021 09h06

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Com encerramento programado para setembro, a CPI da Covid convive com um paradoxo. Tomada pelo relatório final, a investigação parlamentar terá a aparência de uma iniciativa de sucesso. Considerando-se as consequências a serem produzidas pelas conclusões do documento, a CPI resultará em frustração.

As pessoas que acompanharam os depoimentos pela televisão terão a impressão de que desperdiçaram o seu tempo quando as conclusões da CPI morrerem no arquivo do procurador-geral Augusto Aras, responsável pela análise dos crimes comuns atribuídos a Bolsonaro, e no gavetão do presidente da Câmara Arthur Lira, a quem cabe lidar com a acusação da prática o crime de responsabilidade, o crime que levaria, em tesem ao impeachment.

Não há nada que os senadores da CPI possam fazer para dissolver a cumplicidade do presidente da Câmara com Bolsonaro. Mas, com honrosas exceções, é espantosa a inércia dos senadores em relação ao procurador-geral. A recondução de Augusto Aras ao comando da Procuradoria está pendente de votação no Senado. Em vez de articular a reprovação do nome de Aras, parte da CPI confraterniza com ele. Com a disposição de jantar Bolsonaro, integrantes da cúpula da comissão reuniram-se na terça-feira com Aras, o procurador que Bolsonaro escolheu para lavar a sua louça por mais dois anos.

O senador Renan Calheiros tornou-se a personificação do paradoxo vivido pela CPI. Há dois anos, quando o Senado aprovou a nomeação de Augusto Aras para o posto de procurador-geral, Renan não conseguiu conter o entusiasmo. Ao participar da sabatina de Aras, declarou: "Sou um crítico do governo, mas tenho isenção suficiente para reconhecer que, de todos os atos do presidente Bolsonaro, talvez o mais acertado e significativo seja o da indicação do doutor Augusto Aras."

Nessa época, Renan estava ao lado de Flávio Bolsonaro, outro entusiasta da escolha de Aras. Ambos desejavam aplicar um sedativo no aparato fiscalizatório do Estado. Freguês de caderneta da Lava Jato, Renan queria acertar as contas com a força-tarefa de Curitiba. Denunciado pelo Ministério Público do Rio por peculato e lavagem de dinheiro, Flávio estava à procura de blindagem.

Augusto Aras correspondeu às piores expetativas. E a maioria do Senado parece decidida a premiá-lo. Confirmando-se a expectativa, Bolsonaro poderá repetir que está falando e andando para o relatório final da CPI.