Topo

Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Chapa com Alckmin interessaria apenas a Lula

Colunista do UOL

16/11/2021 12h36

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

No universo da política, insultos que seriam lavados com sangue num romance ambientado no século 19 não passam de prenúncio de futuras alianças. Na sucessão de 2006, Lula e Alckmin tacharam-se mutuamente de leviano e mentiroso. Hoje, frequentam a conjuntura como potenciais aliados. Evitam confirmar a parceria. Mas fazem questão de não descartá-la. A junção pode ser politicamente interessante para Lula. Para Alckmin, nem tanto.

"Tenho extraordinária relação de respeito com Alckmin", disse Lula em Bruxelas. "Não há nada que aconteceu entre mim e Alckmin que não possa ser reconciliado. Não há. Política é como jogo de futebol. Você dá uma botinada no cara, o cara cai chorando de dor, mas depois termina o jogo, se encontram, se abraçam, vão tomar uma cerveja e discutir o próximo jogo."

Um acordo com Alckmin teria dupla serventia para Lula. Retiraria do caminho de Fernando Haddad, candidato do PT ao governo de São Paulo, um rival duro de roer. E injetaria na chapa presidencial petista um vice de centro-direita. Apresentado pelas pesquisas como primeira via, Lula ganharia a companhia de um político com cara de terceira via.

Mal comparando, Alckmin desempenharia no arranjo do PT o papel que o empresário José de Alencar exerceu ao aceitar a posição de segundo na chapa de Lula em 2002 e 2006. Não há no mercado quem imagine que Lula vá transformar o Brasil num espantalho socialista, como alega Bolsonaro. Mas a suavização ideológica representada pela presença de Alckmin na chapa funcionaria como uma espécie de segunda carta de Lula aos brasileiros.

O que ganha Alckmin com esse tipo de acerto? Nada. Ou pouca coisa. Perde a conexão com seu eleitorado conservador. Abandona a perspectiva de dar o troco em João Doria, a quem chama de "traidor". Hoje, a prioridade de Alckmin é derrotar Rodrigo Garcia, o neotucano que o governador paulista fabricou como candidato à sua sucessão. Com dois pés fora do PSDB, Alckmin ganharia de concreto apenas o papel de coadjuvante num roteiro que reforça na cabeça dos eleitores a impressão de que a política é o território da farsa