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Fundão eleitoral de R$ 5,7 bilhões é um desafio à paciência
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Bolsonaro inventou uma nova modalidade de veto presidencial. Criou o veto fake. Era cenográfica a contrariedade do presidente com o megafundo eleitoral de R$ 5,7 bilhões. Com o beneplácito silencioso do Planalto, Câmara e Senado derrubaram o veto de Bolsonaro ao fundão. A decisão conduz à necessidade de ajustar o Orçamento de 2022, que reservara R$ 2,1 bilhões para o financiamento das eleições de 2022.
Convém repetir: deputados e senadores triplicaram o dinheiro para a campanha eleitoral num instante em que a renda cai, a inflação sobe, quase 14 milhões de brasileiros estão no olho da rua, mais de 19 milhões de patrícios passam fome e o governo arromba o teto de gastos para financiar um auxílio de R$ 400 aos miseráveis. Numa hora dessas, espetaram no Tesouro Nacional uma conta de quase R$ 6 bilhões.
Elevou-se o fundão, mas a taxa de desfaçatez do Congresso e do Planalto não aumentou. Continua nos mesmos 100%. O PL, novo partido de Bolsonaro, liderou o movimento pela derrubada do veto. O PP, partido do ministro-chefe da Casa Civil Ciro Nogueira, engrossou o coro. No gogó, Bolsonaro poderá dizer que foi contra. Na prática, será beneficiário direto da queda do próprio veto, dispondo de mais dinheiro para sua campanha.
O deputado Wellington Roberto, líder do partido do presidente na Câmara, orientou o voto pela queda do veto do filiado ilustre da legenda. O senador Eduardo Gomes, líder de Bolsonaro no Congresso, liberou os governistas. Alegou que se tratava de "decisão pessoal" de cada parlamentar. "Deixaremos a posição em aberto", ele disse.
Tanta abertura reuniu no painel eletrônico do Congresso, bem juntinhos, congressistas de todas as tendências. Numa evidência de que a desfaçatez não tem ideologia, votaram a favor do escárnio do centrão bolsonarista ao PT lulista.
Na Câmara, eram necessários 257 votos para derrubar o veto. Votaram a favor 317 deputados. No Senado, eram necessários 41 votos. Associaram-se à indignidade 53 senadores.
O Brasil viveu durante muitos anos à beira do abismo. Isso mudou. Hoje, o país está dentro do abismo. O brasileiro experimenta cotidianamente a vivência do abismo. Faz isso na fila do osso, na caçamba do lixo, no desespero da mão estendida no semáforo...
A despeito de todo o sofrimento, a turma que depende do voto popular insiste em desafiar a paciência do pessoal que vive no Brasil do abismo. Esses dois universos estão cada vez mais distantes um do outro.
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