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Algo está errado quando militares precisam bater continência para o óbvio
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O brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, comandante da Aeronáutica, serviu um calmante de tirar o sossego ao afirmar que os militares baterão continência para o próximo presidente da República, mesmo que o escolhido do eleitorado seja Lula. "Nós prestaremos continência a qualquer comandante supremo das Forças Armadas, sempre", disse ele à Folha.
A declaração acalma porque enfraquece a ideia de que Bolsonaro pode tratar militares como milicianos, referindo-se ao Exército, à Marinha e à Aeronáutica como "minhas Forças Armadas". Provoca desassossego porque ninguém ignora que algo está muito errado quando um comandante militar é constrangido a declarar a obviedade de que não lhe cabe senão cumprir a Constituição.
Carlos Júnior assumiu a chefia da FAB há dez meses. Ganhou o posto depois que Bolsonaro abriu o caminho para a troca dos comandos das três Forças ao fritar o então ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, colocando no lugar dele o general bolsonarista Braga Netto, que chefiava a Casa Civil. Na entrevista à Folha, o brigadeiro Carlos Júnior disse que "a política não entrará nos nossos quartéis." Já entrou.
No momento, Bolsonaro peita o Supremo, recusando-se a depor à PF sobre uma live em que desqualificou as urnas eletrônicas. O general Braga Netto passeia de moto com o capitão fazendo pose de candidato a vice. E o Tribunal Superior Eleitoral levou o quatro-estrelas Fernando Azevedo para os seus quadros. O general que Bolsonaro carbonizou estreia neste mês de fevereiro no posto de diretor-geral do TSE. Virou vigia das urnas.
Dividido, o Brasil lida com os mortos da pandemia, o desemprego e a carestia. Um país com problemas dessa magnitude não precisa de uma encrenca militar. Melhor mesmo que os militares evitem declarar guerra ao óbvio, prestando continência para as urnas.
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