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Bolsonaro viaja 16 horas para encontrar uma casca de banana em Moscou
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Sob Bolsonaro, o brasileiro habituou-se a esperar por três coisas absolutamente seguras: a morte, o nascer do sol e a próxima barbaridade do presidente da República. Bolsonaro embarca para Moscou nesta segunda-feira bem ensaiado pelo Itamaraty. Foi instruído a manter na coleira suas declarações sobre a crise envolvendo Rússia e Ucrânia. Mas o grande receio da diplomacia brasileira é o de que a língua do presidente fuja do script.
O objetivo da viagem é mais político do que econômico. As exportações russas para o Brasil somaram em 2021 cerca de US$ 5,7 bilhões (60% em adubos e fertilizantes). No mesmo período, as vendas brasileiras para a Rússia roçaram a cifra de R$ 1,6 bilhão.
O desequilíbrio da balança comercial justificaria a aceitação do convite de Vladimir Putin. Mas nem as almas mais otimistas acreditam que a viagem produzirá um salto nas exportações brasileiras. O que empurra Bolsonaro para a Rússia é a agenda eleitoral. Atrás de Lula nas pesquisas, o presidente acha que o encontro com uma liderança do porte do autocrata Putin atenuará a sua imagem de pária mundial.
O roteiro preparado pelo Itamaraty prevê que Bolsonaro deve se abster de puxar conversa sobre a crise da Ucrânia ao se encontrar com Putin, na quarta-feira. Instado a tratar do tema, precisa observar a tradição da política externa brasileira, atendo-se à defesa de uma solução pacífica para o conflito e respeitando o princípio da autodeterminação dos povos. Numa palavra, o capitão precisa exalar neutralidade, evitando tomar partido.
Bolsonaro ignorou os conselhos para que cancelasse ou adiasse a viagem. A falta de controle sobre a própria língua ateou no Itamaraty o medo de que o presidente viaje 16 horas para escorregar numa casca de banana em Moscou. Ironicamente, a agenda inclui um compromisso que reforça a percepção de isolamento que Bolsonaro gostaria de atenuar.
Da Rússia, Bolsonaro voará para a Hungria, espécie de Disneylândia ideológica do bolsonarismo. Encontrará o primeiro-ministro Viktor Orbán, um ditador que controla a imprensa, o Judiciário e o Parlamento. Nesse trecho, mais do que um risco diplomático, a viagem constitui um desperdício de verba pública.
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